Doses maiores

11 de julho de 2016

Galileu e o pacto entre ciência e religião

Há quatro séculos, em 1616, a Igreja Católica proibia a divulgação da teoria heliocêntrica, de Copérnico. Um dos principais atingidos pela medida foi Galileu Galilei, que a vinha aperfeiçoando.

Chamado a Roma para se explicar, Galileu apresentou argumentos bastante sólidos. Em “Para uma ontologia do ser social”, o marxista George Lukács explica como a Igreja, diante da situação embaraçosa, recorreu “à teoria da dupla verdade”, elaborada pelo cardeal Belarmino:

Quando novas cartas astronômicas, baseadas em novas hipóteses, facilitarem a navegação de nossos marinheiros, eles devem usá-las. A nós desagradam apenas as teorias que falsificam a Escritura.

Ou seja, os cientistas deveriam deixar as questões religiosas para as autoridades eclesiásticas. Seu trabalho envolve a razão, o do clero, a fé.

De certa maneira, essa “divisão de trabalho” persiste até hoje. Há poucos cientistas que se dedicam a questionar a existência de forças divinas e transcendentes. Já a Igreja Católica, por exemplo, reconheceu as teorias de Galileu e Darwin.

Mas há um problema mal resolvido nesse arranjo. É novamente Lukács que o expõe:

...se a ciência não se orienta para o conhecimento mais adequado possível da realidade existente em si, (...) então sua atividade se reduz, em última análise, a sustentar a práxis no sentido imediato. (...) uma manipulação dos fatos que interessam aos homens na prática.

E de que homens falava Lukács? Daqueles que controlam as instituições. Neste caso, as religiosas e científicas. E a que prática se dedicam? Àquela que justifica a exploração e a opressão por meio de dogmas fantasiados de verdades.

Há quatro séculos, ciência e religião mantêm um pacto muito conveniente aos poderosos.


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