Há quatro séculos, em 1616, a Igreja Católica proibia a divulgação
da teoria heliocêntrica, de Copérnico. Um dos principais atingidos pela medida
foi Galileu Galilei, que a vinha aperfeiçoando.
Chamado a Roma para se explicar, Galileu apresentou argumentos
bastante sólidos. Em “Para uma ontologia do ser social”, o marxista
George Lukács explica como a Igreja, diante da situação embaraçosa, recorreu “à
teoria da dupla verdade”, elaborada pelo cardeal Belarmino:
Quando novas cartas astronômicas,
baseadas em novas hipóteses, facilitarem a navegação de nossos marinheiros,
eles devem usá-las. A nós desagradam apenas as teorias que falsificam a
Escritura.
Ou seja, os cientistas deveriam deixar as questões religiosas
para as autoridades eclesiásticas. Seu trabalho envolve a razão, o do clero, a
fé.
De certa maneira, essa “divisão de trabalho” persiste até
hoje. Há poucos cientistas que se dedicam a questionar a existência de forças
divinas e transcendentes. Já a Igreja Católica, por exemplo, reconheceu as
teorias de Galileu e Darwin.
Mas há um problema mal resolvido nesse arranjo. É novamente
Lukács que o expõe:
...se a ciência não se orienta para o
conhecimento mais adequado possível da realidade existente em si, (...) então
sua atividade se reduz, em última análise, a sustentar a práxis no sentido
imediato. (...) uma manipulação dos fatos que interessam aos homens na prática.
E de que homens falava Lukács? Daqueles que controlam as
instituições. Neste caso, as religiosas e científicas. E a que prática se
dedicam? Àquela que justifica a exploração e a opressão por meio de dogmas fantasiados
de verdades.
Há quatro séculos, ciência e religião mantêm um pacto
muito conveniente aos poderosos.
Leia também: O iluminismo árabe e o obscurantismo
ocidental
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