A esquerda costuma dizer que a primeira greve do País foi
feita pelos tipógrafos, em 1858, no Rio de Janeiro. Mas um ano antes, na mesma cidade,
trabalhadores escravizados de uma fábrica do Visconde de Mauá já haviam cruzado
os braços.
É o que revela o artigo “As greves antes da ‘grève’: as paralisações do trabalho feitas
por escravos no século XIX”, de Antonio Luigi Negro e Flávio dos Santos
Gomes.
O texto mostra o que já deveria ser óbvio: o “mito do
imigrante radical (...) impede que o trabalhador local (a começar pelo escravo)
apareça como protagonista das lutas operárias”.
Afinal, 45% dos operários das manufaturas do Rio de
Janeiro entre 1840 a 1850 eram escravos. Especialmente, em fábricas de vidro,
papel, sabão, couros, chapéus e têxteis.
No final da década de 1820, cativos, negros livres e
outros trabalhadores pararam uma fábrica de pólvora, também no Rio. E, em abril
de 1833, outro levante em terras cariocas fez escravos de uma caldeiraria
enfrentarem a polícia, ocorrendo “tiros e mortes”.
Em 1857, uma paralisação promovida por carregadores
afrodescendentes paralisou o porto e o setor de abastecimento e transporte de
Salvador por duas semanas.
Naquela época, tais paralisações eram chamadas de “parede”.
A denominação “greve”, de origem francesa, deve ter se popularizado com a maior
participação dos imigrantes nas lutas. Não se pode descartar, porém, a colaboração
de uma historiografia europeizada.
Mas, como pretende o artigo, o importante é resgatar a importância
dos milhões de explorados africanos, índios, “brasileiros” e imigrantes na “invenção
da liberdade” num mundo que jamais deixou de ser “marcado pela escravidão”.
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