Em 24/07, Sérgio Telles publicou artigo
no Estadão, argumentando que a recente febre de caça aos Pokemóns é “uma fuga à
realidade tão antiga quanto o ser humano”.
O psicanalista lembra o que Freud
dizia sobre não tolerarmos “um contato ininterrupto com a realidade”. Daí,
precisarmos cortar diariamente o contato com ela através dos sonhos. Estes se equivaleriam
à “realidade virtual” onde realizaríamos “os desejos que a realidade nos obriga
a abandonar”.
As artes e, especialmente as
narrativas, como a literatura e o cinema, diz ele, também seriam realidades
virtuais. Mesmo de caráter ficcional, elas possibilitariam acessar "importantes verdades humanas que nos seriam inacessíveis sem elas”.
Alexandre Matias publicou artigo na
mesma edição, afirmando que o “Pokemón Go vai transformar o mundo em uma enorme
rede social”.
O jornalista recorda o historiador Johan
Huizinga, que considerava a transformação da vida em jogo uma tendência natural
do ser humano. Uma forma de buscarmos uma “consciência de ser diferente da
‘vida cotidiana’”.
Pokémon Go só iria além desses
conceitos “ao trazer o jogo para a atividade online e offline simultaneamente”,
conclui.
Mas por que tanto empenho em fugir da
vida cotidiana? Seria um mal da essência humana ou de certa forma histórica
de nos relacionarmos? Essa pressão psicológica não seria menor ou inexistente no
dia-a-dia de nossos antepassados?
Talvez, tudo isso tenha a ver com a nossa
crescente rendição à lógica das mercadorias. Afinal, Pokémon vem do inglês “pocket
monster”, ou “monstro de bolso”. Esta parte de nosso vestuário que ganhou grande
importância quando carregar dinheiro ou seus equivalentes passou a nos definir.
Ou melhor, escravizar.
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