Em 1917, Duma Estatal era
o nome que se dava à Assembleia Legislativa Federal. Funcionou um tanto
decorativamente em boa parte de sua existência. Mas pressionada pela Revolução
de Fevereiro, sua bancada islâmica convocou um “Encontro dos Muçulmanos de toda
a Rússia” para 1º de Maio. Na pauta, a situação dos povos muçulmanos no Império
Russo.
...mas
antes disso, em 23 de abril, reuniu-se em Kazan, no Tartaristão, o Congresso
das Mulheres Muçulmanas Russas. Ali, cinquenta e nove delegadas se encontraram diante
de um auditório com 300 pessoas, mulheres em sua esmagadora maioria. Na pauta, questões
como o poder de lei da Sharia, o casamento plural, direitos das mulheres e o
uso do hijab (véu muçulmano).
A
conferência aprovou dez princípios, incluindo o direito ao voto feminino, a
igualdade dos sexos e a natureza não obrigatória do uso do hijab. O tom das
discussões foi claramente jadidista, ou mais à esquerda. Um sintoma de tempos trêmulos.
O trecho acima é do livro “October, The Story of
the Russian Revolution”, de China Miéville, ainda sem tradução.
O jadidismo a que se
refere a citação é um movimento surgido na Rússia que fazia uma leitura moderna
do islamismo, dando ênfase à tolerância religiosa e respeito à igualdade de
direitos individuais.
Serve para mostrar como
a Revolução Russa foi resultado de um amplo movimento dos de baixo, e não envolveu
apenas as lutas específicas de trabalhadores e camponeses.
Os bolcheviques (e as
bolcheviques) foram os que melhor entenderam isso. Por isso, lideraram a revolução.
Mas eles também a enterrariam, quando, liderados por Stálin, desprezaram tais questões,
entre outras.
Leia também: Em 1905, uma revolta ortográfica na Rússia
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