O processo pelo qual a Internet vem
sendo submetida pelas grandes companhias da tecnologia remete aos cercamentos
ingleses do século 18. Os cercamentos consistiram na expropriação de camponeses
ingleses de terras comunais para benefício de proprietários privados. Antes um
bem comum para os camponeses, que produziam naquele espaço de maneira
colaborativa, as terras passaram a ter seu acesso e uso regulado pelos
proprietários. O fenômeno, que contribuiu para o surgimento da classe operária
e o início da Revolução Industrial, para a tradição marxista os cercamentos
marcaram o início da sociedade capitalista, sendo um mecanismo de acumulação
primitiva. Como explicitado quando analisamos as novas tendências do
capitalismo, a expropriação do comum através da predação externa do capital não
é um acontecimento exclusivo de uma época, mas sim estratégia integral e
recorrente no processo capitalista de acumulação.
(...)
Atualmente, empresas de tecnologia
como o Facebook e o Google agem como os proprietários do “espaço” a ser
utilizado, e as informações pessoais servem como “pagamento” para o acesso dos
usuários. A privacidade, nessa lógica, se torna um bem a ser comercializado. O
fenômeno da privatização resulta não apenas no controle do acesso, mas na
mediação das interações que ocorrem dentro desses espaços e na restrição dos
fluxos de informação.
Em “O Capital”, Marx mostrou como os
cercamentos ingleses representaram uma espécie de roubo das terras comunitárias
dos camponeses. Após 150 anos, eles continuam. Na internete, são uma espécie de
sequestro.
Realmente, pertinente.
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