Escrevendo
para o Correio da Manhã, em 31/03/1959, Carlos Drummond de Andrade
observa que “Pelé e Didi, dando duro na cancha” não estariam
mais exaustos do que o “torcedor internacional”.
Citando
um tal prof. Silva Mello, o poeta afirma que em um
dos livros dele aprendeu que:
...o
participante de jogo internacional despende seis vezes mais energia
do que o trabalhador em mina de carvão (...), e que tais competições
desportivas fornecem excelente material para as doenças cardíacas e
do aparelho circulatório. Sinto-me tentado a ampliar a observação
do mestre e a redigir uma nota palpitando que o gasto de energia do
torcedor é doze vezes maior, e que ele está muito mais ameaçado de
morte que o integrante de selecionado. O torcedor, na sua impotência,
“joga” ainda mais do que o jogador, e como não tem bola alguma à
sua frente, precisa socorrer-se de um esforço de imaginação de que
Paulinho está dispensado. É certo que fica imune das agressões
habituais nos gramados sul-americanos, porém os mais sensíveis se
queixam de ter recebido na epiderme moral os coices distribuídos em
River Plate pelo onze do “Celeste”.
Diante
disso, aconselha:
O
campeão não é campeão vinte e quatro horas por dia; chega uma
hora de calçar os chinelos, e bocejar; um tempo de ver as flores;
tempo de não sofrer mais do que o estritamente necessário, e
desconfiar das glórias incômodas. De resto, não somos sessenta
milhões de campeões, o que inflacionaria a espécie; eles são
apenas onze e seus reservas. Penso nas coronárias e sugiro (diante
do espelho): Calma, torcedor.
É
isso aí. Calma!
Leia
também: No
meio do caminho tinha uma bola
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