Pérolas de Carlos Drummond de
Andrade retiradas do livro “Quando é dia de futebol”, que reúne várias de suas
crônicas e poemas sobre o ludopédio nacional:
O
campeão não é campeão vinte e quatro horas por dia; chega uma hora de calçar os
chinelos, e bocejar; um tempo de ver as flores; tempo de não sofrer mais do que
o estritamente necessário, e desconfiar das glórias incômodas. De resto, não
somos sessenta milhões de campeões, o que inflacionaria a espécie; eles são
apenas onze e seus reservas. Penso nas coronárias e sugiro (diante do espelho):
Calma, torcedor.
Desabafou
comigo, diante do chope amargo: – Se fosse só a Hungria contra nós, eu ainda
aguentava. Se fosse a Hungria mais o juiz, que anulou dois gols da gente, ainda
aguentava. Mas a Hungria, o juiz e os nossos locutores, tudo junto, espera lá,
não há tatu que aguente!
Não
há nada mais triste do que o papel picado, no asfalto, depois de um jogo
perdido. São esperanças picadas.
Eu
sei que futebol é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro dia a gente perde,
mas por que é que, quando a gente ganha, ninguém se lembra de que futebol é
assim mesmo?
E
já estou pensando em um futebol lento, mais do que lento, imóvel, em que os
jogadores de ambos os times se sentem no chão para assistir à lenta germinação
de uma folhinha de grama: o verde da vida.
Futebol
se joga no estádio?
Futebol
se joga na praia,
futebol
se joga na rua,
futebol se joga na alma...
E também é poesia, poeta, poesia!
Leia também: O futebol na confusa terra dos irmãos do
vento
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