O
livro “Futebol e Outras Historias” reúne textos do jornalista
João Saldanha, que treinou a seleção brasileira até às vésperas
da Copa de 1970.
Militante
firme do Partido Comunista, Saldanha até que durou muito tempo no comando
do time brasileiro, sob a ditadura militar. Seu “erro” foi não
admitir que os generais se metessem na escalação do selecionado.
Cobrindo
a Copa de 1982, logo que chegou ao país-sede, ele escreveu:
...importante
que os futuros responsáveis se mirem no exemplo desta Copa da
Espanha, que teve tudo, mais do que nenhuma antes realizada, para
fazer a mais grandiosa de todas.
Não
há condição de um país organizador, digo, de uma federação
organizadora, perder dinheiro. Mas não se trata de fazer um
superlucro, como se estivessem fazendo uma competição financeira.
Façam uma concorrência para no máximo um ou dois anunciantes
trazerem sua .publicidade. Isto evitará este triste espetáculo
visual que impede os espectadores de verem se a bola entrou ou se foi
camuflada pelos cartazes.
Não
são absolutamente necessários cinco mil guardas de trânsito para
organizarem apenas dois ou três mil veículos. Se tanto. Nem tantas
mocinhas e rapazes para mostrarem que a saída é ali onde está
escrito saída. Coisas da vida onde a política eleitoral se mete.
Lá
como cá também existem eleições. Por isso, fizeram na Espanha
dezessete cidades-sede quando bastariam oito ou dez.
Em
outro texto, ele acha que fazemos “estádios imensos em cidades
pequenas e pobres em tudo” e que a “televisão tomou conta dos
espetáculo”.
Saldanha
morreu em 1990. Não tinha como imaginar o 7 x 1, mas provavelmente
não ficaria supreso.
Leia
também: No
meio do caminho tinha uma bola
Salve, Saldanha! Saldanha faz muita falta, sobretudo em tempos de tamanha manipulação ideológica midiática. Até hoje me lembro da sua última aparição na TV, se não me engano na Manchete, depois da derrota para a Argentina, na Copa de 1990. Saldanha, como sempre, deu uma aula de história e de geopolítica. Fazia com maestria, como ninguém, usando o futebol como fio condutor e tocando a classe trabalhadora, fazendo-a parar para ouvi-lo e pensar. Do estúdio, ele saiu para o hospital - e nos deixou um pouco órfãos... Belo documento histórico, à espera de resgate... Fica a dica para pesquisa. Mais uma vez, caro Sérgio, seus leitores agradecem pelo trabalho generoso que você realiza.
ResponderExcluirObrigado, Alexandre.
ResponderExcluirE viva João Saldanha!
Abraço
Compartilho com vocês essa mesma saudade. Por um feliz acaso, escrevi um pequeno texto sobre a relação entre a mídia, a política e o futebol (a seleção), numa abordagem crítica citando o próprio Saldanha. Feliz coincidência ver este texto. Valeu, Sérgio! Abraço!
ResponderExcluirSalete, por favor, partilhe conosco o seu texto!
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