Doses maiores

22 de junho de 2018

João Saldanha bem que avisou

O livro “Futebol e Outras Historias” reúne textos do jornalista João Saldanha, que treinou a seleção brasileira até às vésperas da Copa de 1970.

Militante firme do Partido Comunista, Saldanha até que durou muito tempo no comando do time brasileiro, sob a ditadura militar. Seu “erro” foi não admitir que os generais se metessem na escalação do selecionado.

Cobrindo a Copa de 1982, logo que chegou ao país-sede, ele escreveu:

...importante que os futuros responsáveis se mirem no exemplo desta Copa da Espanha, que teve tudo, mais do que nenhuma antes realizada, para fazer a mais grandiosa de todas.

Não há condição de um país organizador, digo, de uma federação organizadora, perder dinheiro. Mas não se trata de fazer um superlucro, como se estivessem fazendo uma competição financeira. Façam uma concorrência para no máximo um ou dois anunciantes trazerem sua .publicidade. Isto evitará este triste espetáculo visual que impede os espectadores de verem se a bola entrou ou se foi camuflada pelos cartazes.

Não são absolutamente necessários cinco mil guardas de trânsito para organizarem apenas dois ou três mil veículos. Se tanto. Nem tantas mocinhas e rapazes para mostrarem que a saída é ali onde está escrito saída. Coisas da vida onde a política eleitoral se mete.

Lá como cá também existem eleições. Por isso, fizeram na Espanha dezessete cidades-sede quando bastariam oito ou dez.

Em outro texto, ele acha que fazemos “estádios imensos em cidades pequenas e pobres em tudo” e que a “televisão tomou conta dos espetáculo”.

Saldanha morreu em 1990. Não tinha como imaginar o 7 x 1, mas provavelmente não ficaria supreso.

4 comentários:

  1. Salve, Saldanha! Saldanha faz muita falta, sobretudo em tempos de tamanha manipulação ideológica midiática. Até hoje me lembro da sua última aparição na TV, se não me engano na Manchete, depois da derrota para a Argentina, na Copa de 1990. Saldanha, como sempre, deu uma aula de história e de geopolítica. Fazia com maestria, como ninguém, usando o futebol como fio condutor e tocando a classe trabalhadora, fazendo-a parar para ouvi-lo e pensar. Do estúdio, ele saiu para o hospital - e nos deixou um pouco órfãos... Belo documento histórico, à espera de resgate... Fica a dica para pesquisa. Mais uma vez, caro Sérgio, seus leitores agradecem pelo trabalho generoso que você realiza.

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  2. Obrigado, Alexandre.
    E viva João Saldanha!
    Abraço

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  3. Compartilho com vocês essa mesma saudade. Por um feliz acaso, escrevi um pequeno texto sobre a relação entre a mídia, a política e o futebol (a seleção), numa abordagem crítica citando o próprio Saldanha. Feliz coincidência ver este texto. Valeu, Sérgio! Abraço!

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  4. Salete, por favor, partilhe conosco o seu texto!

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