Doses maiores

8 de junho de 2018

Fascismos renovados, esquerdas aprisionadas

“Um fascismo renovado percorre a Europa”, afirma o título do artigo de Eduardo Febbro publicado por Página/12, em 05/06/2018. Segundo ele:

Na América Latina, as direitas liberais chamam de populistas tudo o que vai da socialdemocracia à esquerda. Na Europa não: esse termo está globalmente identificado com as extremas direitas.

Seria o que Febbro chama de “fascismo renovado”, presente na Itália, Eslovênia, República Checa, Hungria, Grã-Bretanha, Holanda, Áustria, Polônia e França.

Paradoxalmente, diz ele, “esse grupo adotou alguns perfis retóricos que antes pertenciam exclusivamente à esquerda. O principal consiste em se apresentar como um ‘cinturão antissistema’”.

Essa reviravolta “retórica” lembra outra, mais próxima de nós. Há algumas décadas, a ideia de reformas servia para designar, por exemplo, a democratização da propriedade agrária e urbana. Ou o mais amplo acesso gratuito à educação. Hoje, passou a significar medidas neoliberais que eliminam direitos sociais, sucateiam serviços públicos e entregam o patrimônio estatal ao mercado.

Segundo alguns setores da esquerda, trata-se de uma disputa “de narrativas” ou “de ressignificações”. Mas seria melhor procurar nas relações materiais concretas as verdadeiras razões para tanto retrocesso.

Principalmente, na rendição da esquerda à burocratização de partidos e sindicatos. Na fé cega sem faca amolada nas disputas eleitorais. Na militância sectária distante daqueles a quem julgam representar os que absolutizam suas verdades revolucionárias ou seu “lugar de fala”.

Não à toa, o candidato considerado como “antissistêmico” nas próximas eleições é produto do que há de mais típico na atual estrutura política: ultraconservador, corrupto e truculento. E o personagem tido como fator desestabilizador pelo sistema, mergulhou tão fundo nele que tornou-se seu prisioneiro. Literalmente.

Leia também:

2 comentários:

  1. Sergio, a frase que introduz esta pílula “Um fascismo renovado percorre a Europa” me remeteu à introdução do Manifesto Comunista: "Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo". Curioso, não? Não sei se o autor do título citado teve esta intenção.
    Outra coisa que também me chamou atenção foi o das "narrativas". Caramba, como nós de esquerda somos chegados a chavões. O da "moda" (desculpa, mas é sim) atualmente é este. E, não sei, mas não me agrada. Narrativa para mim é narrar, descrever uma história. Deve ter muitos linguistas sustentando esta "ressignificação". Usei este termo só para provocar, sei que é outro também que está sendo muito usado. Nem o corretor reconhece.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também não sou muito chegado a essas novas terminologias. São muito influenciadas pelo pós-modernismo. Mas, como o texto diz, trata-se de procurar nas relações materiais concretas. Além disso, prefiro os conceitos de "concepção de mundo" e "disputa de hegemonia".

      Excluir