“Um fascismo renovado percorre a
Europa”, afirma o título do artigo de Eduardo Febbro publicado por Página/12, em
05/06/2018. Segundo ele:
Na América Latina, as direitas
liberais chamam de populistas tudo o que vai da socialdemocracia à esquerda. Na
Europa não: esse termo está globalmente identificado com as extremas direitas.
Seria
o que Febbro chama de “fascismo renovado”, presente na Itália, Eslovênia,
República Checa, Hungria, Grã-Bretanha, Holanda, Áustria, Polônia e França.
Paradoxalmente,
diz ele, “esse grupo adotou alguns perfis retóricos que antes pertenciam
exclusivamente à esquerda. O principal consiste em se apresentar como um ‘cinturão
antissistema’”.
Essa
reviravolta “retórica” lembra outra, mais próxima de nós. Há algumas décadas, a
ideia de reformas servia para designar, por exemplo, a democratização da propriedade
agrária e urbana. Ou o mais amplo acesso gratuito à educação. Hoje, passou a significar
medidas neoliberais que eliminam direitos sociais, sucateiam serviços públicos e
entregam o patrimônio estatal ao mercado.
Segundo
alguns setores da esquerda, trata-se de uma disputa “de narrativas” ou “de
ressignificações”. Mas seria melhor procurar nas relações materiais concretas
as verdadeiras razões para tanto retrocesso.
Principalmente,
na rendição da esquerda à burocratização de partidos e sindicatos. Na fé cega
sem faca amolada nas disputas eleitorais. Na militância sectária distante daqueles
a quem julgam representar os que absolutizam suas verdades revolucionárias ou seu
“lugar de fala”.
Não à
toa, o candidato considerado como “antissistêmico” nas próximas eleições é
produto do que há de mais típico na atual estrutura política: ultraconservador,
corrupto e truculento. E o personagem tido como fator desestabilizador pelo
sistema, mergulhou tão fundo nele que tornou-se seu prisioneiro. Literalmente.
Leia também:
Sergio, a frase que introduz esta pílula “Um fascismo renovado percorre a Europa” me remeteu à introdução do Manifesto Comunista: "Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo". Curioso, não? Não sei se o autor do título citado teve esta intenção.
ResponderExcluirOutra coisa que também me chamou atenção foi o das "narrativas". Caramba, como nós de esquerda somos chegados a chavões. O da "moda" (desculpa, mas é sim) atualmente é este. E, não sei, mas não me agrada. Narrativa para mim é narrar, descrever uma história. Deve ter muitos linguistas sustentando esta "ressignificação". Usei este termo só para provocar, sei que é outro também que está sendo muito usado. Nem o corretor reconhece.
Também não sou muito chegado a essas novas terminologias. São muito influenciadas pelo pós-modernismo. Mas, como o texto diz, trata-se de procurar nas relações materiais concretas. Além disso, prefiro os conceitos de "concepção de mundo" e "disputa de hegemonia".
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