Doses maiores

12 de setembro de 2018

Um duende ronda a Europa. Ops...

“A inesquecível primeira frase do Manifesto Comunista tem a força de um raio”, diz Francis Wheen em sua biografia sobre Marx: "Um temível duende ronda a Europa". Ops...

Estranho, certo? Mas foi assim que a famosa sentença apareceu na primeira edição em inglês, publicada pelo jornal “Red Republican”, em 1850.

A tradução era de Helen Macfarlane, feminista que conhecia Marx e Engels e era muito admirada por ambos. Para traduzir o “espectro” do original alemão, Helen escolheu “hobgoblin”, cuja tradução mais aproximada seria “duende”.

Infelizmente, a imagem do “duende” nunca pegou, lamenta Wheen. A versão que todos conhecem é de Samuel Moore, publicada pela primeira vez em 1888: "Um espectro assombra a Europa. O espectro do comunismo”.

Mas detalhes góticos à parte, um documento interessante foi publicado por Marx e Engels um mês depois do Manifesto. Trata-se de "Demandas do Partido Comunista da Alemanha".

Como o proletariado alemão praticamente não existia ainda, os autores entendiam que o primeiro estágio da luta comunista no país deveria ser uma revolução burguesa.

Assim, as “Demandas" eram bastante modestas. Incluíam apenas quatro dos dez pontos do Manifesto: imposto de renda progressivo, liberdade de ensino, propriedade estatal dos meios de transporte e criação de um banco nacional.

Enquanto o Manifesto propunha a nacionalização de todas as terras, o documento se limitava a "propriedades da nobreza e feudais em geral". Também defendia o sufrágio universal e o pagamento de salários para parlamentares.

Reivindicações muito moderadas, mas que exigiram muita luta para serem atendidas nas décadas seguintes.

De qualquer forma, as “Demandas”, sim, poderiam ter sido iniciadas com a imagem daquele temível duende.

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