“A inesquecível primeira frase do Manifesto Comunista tem a força de um
raio”, diz Francis Wheen em sua biografia sobre Marx: "Um temível duende ronda a
Europa". Ops...
Estranho, certo? Mas foi assim que a famosa sentença apareceu na
primeira edição em inglês, publicada pelo jornal “Red Republican”, em 1850.
A tradução era de Helen Macfarlane, feminista que conhecia Marx e
Engels e era muito admirada por ambos. Para traduzir o “espectro” do original
alemão, Helen escolheu “hobgoblin”, cuja tradução mais aproximada seria “duende”.
Infelizmente, a imagem do “duende” nunca pegou, lamenta Wheen. A versão
que todos conhecem é de Samuel Moore, publicada pela primeira vez em 1888:
"Um espectro assombra a Europa. O espectro do comunismo”.
Mas detalhes góticos à parte, um documento interessante foi publicado por
Marx e Engels um mês depois do Manifesto. Trata-se de "Demandas do Partido
Comunista da Alemanha".
Como o proletariado alemão praticamente não existia ainda, os autores
entendiam que o primeiro estágio da luta comunista no país deveria ser uma
revolução burguesa.
Assim, as “Demandas" eram bastante modestas. Incluíam apenas
quatro dos dez pontos do Manifesto: imposto de renda progressivo, liberdade de
ensino, propriedade estatal dos meios de transporte e criação de um banco
nacional.
Enquanto o Manifesto propunha a nacionalização de todas as terras, o documento
se limitava a "propriedades da nobreza e feudais em geral". Também defendia o sufrágio universal e o pagamento de salários para parlamentares.
Reivindicações muito moderadas, mas que exigiram muita luta para serem atendidas
nas décadas seguintes.
De qualquer forma, as “Demandas”, sim, poderiam ter sido iniciadas com a imagem daquele temível duende.
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