Doses maiores

19 de setembro de 2018

Voto útil ou voto desesperado?

Nas eleições de 2014, Dilma era o “Coração Valente”. Uma vez eleita, ela realmente demonstrou muita coragem. Adotou a agenda de austeridade econômica do adversário que derrotou.

Tamanha petulância não serviu para agradar a direita, que queria sangue. Só deixou a esquerda desacorçoada, palavra cujo significado é “sem coração”, no sentido de sem ânimo, sem coragem.

Deu no que deu.

É essa decepção que, agora, Haddad procura evitar. Em 2002, Lula lançou a Carta aos Brasileiros para acalmar os “mercados”. Haddad prefere passar alguns recados. Um deles envolveu o nome de Marcio Pochmann na sabatina da Folha.

Como coordenador informal da agenda econômica do PT, Pochmann vinha minimizando a necessidade de uma reforma da previdência. Posição prontamente desautorizada pelo candidato petista.

Outro recado é a proposta de acordo de Haddad feita a Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. Quem for para o segundo turno apoia o outro.

É assim que a eleição vai se tornando plebiscitária. É sim ou não diante do inominável. Frente ao ex-capitão alucinado e seu vice troglodita, vale tudo. Propostas políticas valem nada.

Nenhuma dúvida quanto à catástrofe que seria a eleição de Bolsonaro e Mourão. Mas chamemos as coisas pelo seu nome.

Quando se fala em voto útil no primeiro turno já não se trata de escolher o mal menor. É a rendição ao mais perigoso dos fatalismos políticos.

Um governo saído de uma vitória sobre Bolsonaro afastará o pior. Mas será o produto do mais puro desespero. E desesperados costumam ter pouca ou nenhuma esperança.

Nas urnas, é digitar o número do candidato e apertar o botão do pânico.  

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2 comentários:

  1. Sim, Sergio, é exatamente como me sinto: desesperado. A ponto de pensar quem seria o melhor candidato para enfrentar O Koisa. Sempre votei na esquerda, e no segundo turno anulei diante do binômio PT e PSDB. Agora me vejo assim. Sim, muitas reflexões sobre o momento político, e muita falta de entendimento. Na minha opinião a candidatura do Koisa seria daquelas aberrações (não tão grande) de candidatos bem de direita que apareciam nas eleições e sumiam. Até consigo entender os candidatos de extrema-direita que existem na Europa, mas no Brasil não via e não vejo sentido. Existem muitas explicações, mas nenhuma me convence. O problema é o que fazer, até diante do simples voto que não gostamos muitos de nos circunscrever a ele.

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    1. Pois, é, Marião. Confuso, muito confuso. Mas acho que o Bozo só se viabilizou pelo enorme antipetistmo. E o antipetismo só se explica pela incapacidade de as classes dominantes assimilarem até mesmo as moderadíssimas reformas petistas. Ou seja, a uma social-democracia das mais ralas, a direita responde com uma pesada contrarrevolução. Sendo assim, deveríamos dar-lhes razão promovendo uma verdadeira revolução. Mas, por enquanto, vamos ficar só na vontade. E votar desesperados...

      Valeu!

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