Giovanni Arceno é um jovem escritor e mantém o blog Leia Brasileiros. Por meio dele, distribui
diariamente, via e-mail, ótimos trechos de literatura nacional, da mais antiga
à recentíssima.
Abaixo uma amostra que tem tudo a ver com os difíceis tempos em que vivemos:
Os homens não bateram, porque há muito
naquela cidade, ou país, a polícia não precisava bater para entrar. Não traziam
mandados judiciais, há muito os mandados tinham perdido a razão de ser. Não
havia um estado de direito. Havia o estado, não o direito.
Os homens entraram, atravessaram a sala onde
a família jantava, até então tranquilamente.
– Inspeção de rotina, comunicou o chefe dos
homens que tinham entrado.
– Fiquem à vontade, disse o dono da casa,
voltando para terminar a sopa, indiferente à súbita invasão. A indiferença
significava apenas impotência.
Os homens vasculharam a sala, os quartos, o
banheiro, o quarto das crianças, a cozinha, a área de serviço e o quarto da
empregada. Quarto? Aqueles cubículos, senzalas que as imobiliárias fazem.
Voltaram da cozinha com uma cadeira branca
de fórmica.
– Vamos levar esta cadeira. Amanhã o senhor
apareça para prestar depoimento.
O trecho é do conto “Os homens que descobriram cadeiras proibidas”, do
livro “Cadeiras Proibidas”, de Ignácio de Loyola Brandão. É de 1976 e diz respeito
ao período da ditadura militar, claro. Mas há algum tempo que, em nosso estado
de direito, voltamos a nos deparar cada vez mais com o estado do que com o
direito.
Como se vê, é altamente recomendável ir lá no blog do Arceno para se
inscrever.
Leia também: Sobre as ameaças de intervenção militar
Muito interessante o trecho citado. Convivi muito com esse realismo fantástico que, como diria Gabriel Garcia Marques, era só realismo; talvez complementar como talvez terrível. Foi recusada minha conexão com o site "Leia Brasileiros". Cadê o meme de cara triste para colocar aqui?
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