Doses maiores

18 de setembro de 2018

A disputa política não se resume a eleições

Entre os artigos de Leon Trotsky reunidos no livro “Problemas da vida cotidiana”, de 1923, está “Nem só de política vive o homem”.

Nele, Trotsky cita um artigo no qual Lênin admite que sua posição em relação à construção do socialismo mudara radicalmente.

Antes, diz Lênin, “nossos principais esforços estavam necessariamente direcionados para a luta política, a revolução, a conquista do poder, etc”. Agora, o centro da atividade revolucionária “deveria se deslocar para o trabalho pacífico da organização cultural”.

Referindo-se ao cerco imperialista à Revolução de 1917, Lênin diz que tal tarefa só não receberia total prioridade devido à “necessidade de lutarmos por nossa posição em escala internacional”. Mas, afirma, “se nos limitarmos às condições econômicas internas, o esforço essencial deve ser dedicado ao trabalho cultural”.

Essas consideraçoes de Lênin lembram as preocupações que, poucos anos depois, Antonio Gramsci manifestaria sobre a necessidade de disputar a hegemonia com as classes dominantes. Em os “Cadernos do Cárcere”, por exemplo, ele diz:

Um grupo social pode e, aliás, deve ser dirigente já antes de conquistar o poder governamental (esta é uma das condições fundamentais inclusive para a própria conquista do poder); depois, quando exerce o poder e mesmo se o mantém fortemente nas mãos, torna-se dominante, mas deve continuar a ser também dirigente.

Não é que Gramsci considerasse necessariamente errado o caminho escolhido pelos bolcheviques. Sua preocupação era como tomar o poder em sociedades mais complexas que a Rússia czarista.

Este é um debate fundamental para a esquerda. Mas, infelizmente, ainda estamos na fase em que precisamos nos convencer de que nem só de eleições vive a política.

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