Entre os artigos de Leon Trotsky reunidos no livro “Problemas da vida
cotidiana”, de 1923, está “Nem só de
política vive o homem”.
Nele, Trotsky cita um
artigo no qual Lênin admite que
sua posição em relação à construção do socialismo mudara radicalmente.
Antes, diz Lênin, “nossos
principais esforços estavam necessariamente direcionados para a luta política,
a revolução, a conquista do poder, etc”. Agora,
o centro da atividade revolucionária “deveria se deslocar para o trabalho
pacífico da organização cultural”.
Referindo-se ao cerco imperialista
à Revolução de 1917, Lênin diz que tal tarefa só não receberia total prioridade
devido à “necessidade de lutarmos por nossa posição em escala internacional”. Mas,
afirma, “se nos limitarmos às condições econômicas internas, o esforço
essencial deve ser dedicado ao trabalho cultural”.
Essas consideraçoes de Lênin
lembram as preocupações que, poucos anos depois, Antonio Gramsci manifestaria sobre a necessidade
de disputar a hegemonia com as classes dominantes. Em os “Cadernos
do Cárcere”, por exemplo, ele diz:
Um
grupo social pode e, aliás, deve ser dirigente já antes de conquistar o poder
governamental (esta é uma das condições fundamentais inclusive para a própria
conquista do poder); depois, quando exerce o poder e mesmo se o mantém
fortemente nas mãos, torna-se dominante, mas deve continuar a ser também dirigente.
Não é que Gramsci considerasse
necessariamente errado o caminho escolhido pelos bolcheviques. Sua preocupação
era como tomar o poder em sociedades mais complexas que a Rússia czarista.
Este é um debate fundamental para a
esquerda. Mas, infelizmente, ainda estamos na fase em que precisamos nos
convencer de que nem só de eleições vive a política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário