No encerramento de seu livro "O maior revolucionário das Américas", biografia de Toussaint Louverture, Sudhir Hazareesingh lembra que somente em abril de 1998, o grande líder negro integrou o panteão dos heróis da França. O autor adverte, porém, que nenhuma das inscrições nos monumentos destinados a ele:
...explicava por que Toussaint foi capturado; nem que foi preso traiçoeiramente pelo exército francês; nem que os homens que o prenderam foram mandados por Bonaparte para restaurar a escravidão no Caribe. Esses subterfúgios e contradições refletiam a incapacidade, por parte da tradição republicana francesa, de ir além de seus relatos egocêntricos sobre a escravatura e sua abolição e de lidar com a atitude hesitante da revolução de 1789 sobre igualdade racial. Os monumentos oficiais em memória de Toussaint mostravam a relutância da França em afastar-se demais da “doce utopia colonial” sobre a história de seu império — ou seja, a de que a escravidão foi produto do “ancien régime”, e que foi extirpada da comunidade nacional pela revolução; de que esse desfecho resultou da intervenção francesa esclarecida, e não da ação revolucionária dos próprios escravizados negros.
Por isso, Hazareesingh prefere destacar um grafite pintado em 2016, nos muros de Belfast, Irlanda do Norte. A pintura em homenagem a Frederick Douglass mostra Toussaint em companhia de figuras lendárias da emancipação negra, como Martin Luther King, Nelson Mandela, Rosa Parks, Paul Robeson, Muhammad Ali, Bob Marley, Steve Biko e Angela Davis.
Louverture fez uma aposta radical na luta pela igualdade racial sob inspiração da mais emblemática das repúblicas burguesas. Pagou com a própria vida porque capitalismo e democracia racial são incompatíveis.
Leia também: Facetas e atitudes contraditórias de Toussaint Louverture
Nenhum comentário:
Postar um comentário