Doses maiores

6 de dezembro de 2021

A república negra de Toussaint apavora os colonizadores

Em 1801, Toussaint Louverture governava a colônia de Saint-Domingue, futuro Haiti, como representante da república francesa. A Constituição que criou para a colônia libertava os escravos, mas preservava o sistema de exploração, mantendo os libertos vinculados às propriedades dos colonizadores.

Segundo o livro "O maior revolucionário das Américas", de Sudhir Hazareesingh, a política agrária de Louverture não era um fim em si mesmo. A prioridade era defender as conquistas de Saint-Domingue contra intervenções externas.

Para Louverture, isso só seria possível com a revitalização da economia de “plantation”, gerando receitas a partir da exportação de produtos como açúcar e café de modo a serem usadas para “o bem comum”.

De fato, o efeito das medidas foi imediato, chegando a decuplicar a produção em determinadas propriedades. Os maiores beneficiados eram os empresários britânicos e americanos, além dos colonos europeus. Mas esses mesmos grupos desprezavam a doutrina de direitos humanos da Revolução Francesa e achavam inconcebível que diferentes etnias pudessem viver juntas em harmonia e igualdade.

Ao mesmo tempo, a ordem que Toussaint criara era vista como uma perigosa república negra pelas potências imperiais. Eles viam a Constituição de Saint-Domingue como uma “tocha” a ser usada para “atear fogo em seus próprios assentamentos” e fariam o que estivesse a seu alcance para “apagar as chamas revolucionárias", o mais rápido possível.

Entre as potências imperiais descontentes estava a própria França. A república nascida em 1789 resistiu a abolir a escravidão nas colônias até 1794. Após o golpe de 18 Brumário de 1799, Napoleão havia restaurado o trabalho escravo. Toussaint passara a ser um inimigo a ser derrotado.

Leia também: Toussaint liberta os escravos de Saint-Domingue

Um comentário: