Antes de encerrar esta série sobre o "O maior revolucionário das Américas", biografia de Toussaint Louverture, seria importante destacar algumas esquisitices do biografado.
Seu autor, Sudhir Hazareesingh, relata, por exemplo, a enorme capacidade de trabalho de Louverture:
...um dia típico de trabalho durava normalmente dezesseis horas, e seu “infatigável zelo” era tamanho que todos em seu “entourage” (...) viviam “assoberbados de trabalho e cansaço”. Ele despachava uma média de duzentas cartas diárias, e era capaz de viajar até 200 km por dia, e, a pleno galope, ninguém o igualava em resistência.
Católico fervoroso, jamais deitava-se com uma de suas amantes sem antes perguntar-lhes se tinham feito a comunhão. A nova Constituição atribuía a ele controle rigoroso sobre a nomeação dos padres. Era a aplicação muito peculiar adotada por Louverture da separação entre Estado e Igreja, defendida pela Revolução Francesa.
Dentre os poderes constitucionais a ele atribuídos estava o de regular o comportamento privado dos cidadãos de Saint-Domingue. Nenhum membro das forças armadas poderia, por exemplo, casar sem sua autorização expressa. Além disso, uniões matrimoniais entre trabalhadores vinculados a propriedades rurais diferentes tinham que ser aprovadas pessoalmente por ele. Por fim, para se separarem, os casais deveriam apresentar um relato completo da situação para Toussaint arbitrar uma possível conciliação.
Os escravizados libertos das plantações passaram a receber remuneração, mas qualquer manifestação de negligência no trabalho era punida com o chicote. Algo que manteve perigosamente vivas as piores memórias da escravidão.
São algumas das facetas e atitudes contraditórias de um dos gigantes da História. Não estão entre as causas diretas de sua ruína, mas certamente contribuíram para ela.
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No plano moral era bem restritivo e pouco revolucionário
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