“Ilusões Perdidas”, de Xavier Giannoli, é um belo filme. Baseado na obra-prima homônima de Honoré de Balzac, a abordagem do diretor privilegiou o comércio de informações a que parte da imprensa francesa das primeiras décadas do século 19 se dedicou. Mas, certamente, o objetivo é fazer referência aos tempos atuais, empesteados pelas chamadas “fake news".
Alguns trechos do romance original mostram essa situação, quando um dos personagens afirma: ”a polêmica, meu caro, é o pedestal das celebridades”. Ou quando alguém diz que todo jornal é “um armazém onde se vendem ao público palavras da cor que ele quiser”. Um jornal, reforça ele:
...não é mais feito para esclarecer, mas para adular as opiniões. Assim, todos os jornais serão, mais cedo ou mais tarde, covardes, hipócritas, infames, mentirosos, assassinos; matarão as ideias, os sistemas, os homens, e florescerão exatamente por isso. Terão o benefício de todos os seres da razão: o mal será feito sem que ninguém seja culpado por ele.
A trama de Balzac se passa durante a restauração da nobreza na França. Mas o verdadeiro poder já era o das finanças. O valor de troca iniciava seu longo império sobre o valor de uso, inclusive nos meios de comunicação.
Agora, como antes, não interessa saber o quanto de verdade há numa informação. Apenas o quão rápida e amplamente ela circula. Ontem, eram os jornais vendidos nas esquinas. Hoje, são cliques e likes.
Ilusão, mesmo, é a crença de que as manipulações cometidas por séculos pela imprensa empresarial não acabassem por jogar a tal esfera pública de volta ao pântano da desinformação em larga escala.
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