Doses maiores

2 de dezembro de 2021

Toussaint Louverture: Ogum no comando

Napoleão Bonaparte costuma ser considerado um dos maiores gênios militares da história. Uma de suas poucas derrotas foi para os russos. Mais precisamente, para o implacável inverno eslavo.

Mas outra grande derrota, pouco comentada, foi para as tropas negras de Saint-Domingue, futuro Haiti, em 1801. Nesse caso, não houve qualquer influência do fator climático, mas do gênio militar de Toussaint Louverture.

Louverture notabilizou-se pelo planejamento preciso de cada operação militar. Liderava pelo exemplo, estimulando os soldados pela prontidão com que se expunha a perigos mortais. Além disso, combinava métodos de guerra de guerrilha e formas convencionais de combate, explorando as habilidades de seus guerreiros.

Ao mesmo tempo, seus objetivos não se limitavam a conquistas territoriais, mas estavam lastreados num conjunto mais amplo de princípios de igualdade, autonomia política, humanidade e libertação da ocupação estrangeira.

Modelo de sobriedade, dormia apenas quatro horas por noite, não consumia bebidas alcoólicas, e sua capacidade de resistência física era maior do que a do mais duro dos soldados.

A autoridade de Toussaint repousava, também, na capacidade de apelar para as crenças de seus homens. Católico fervoroso, ele costumava usar na cabeça um lenço vermelho, visto pelos soldados como símbolo de Ogum, o espírito vodu da guerra, que levava seus seguidores ao combate e os mantinha a salvo.

Sua hiperatividade, somada à aparente invulnerabilidade física no campo de batalha, confirmava a crença dos soldados de que mantinha estreito contato com espíritos vodus e que estes lhe conferiam poderes sobrenaturais.

Nas próximas pílulas, voltaremos com mais informações do livro "O maior revolucionário das Américas", biografia de Toussaint Louverture de Sudhir Hazareesingh.

Leia também: Louverture: a liberdade negra se conquista com fuzis

7 comentários:

  1. Muito boa sua matéria, como sempre, meu caro Sérgio. Mas, um acerto: Ogum vem do iorubá Ògún. Apesar da forte conexão jeje-nagô, Orixá (Òrìsà) é Orixá, Vodum é Vodum - e, entre os Bantos, Nkise é Nkise. Abração.

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    1. Obrigado, mas limitei-me a transcrever o nome que estava no livro, assim como a referência ao vodu.

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    2. Sim! O que evidencia um problema: Sudhir Hazareesingh é de Oxford. É historiador, mas parece que não deu atenção a 'detalhes' importantíssimos que tangem à cultura, à linguagem, à história e a luta de povos de matriz africana no Haiti. Essa 'confusão' com o nome de Ogum manifesta essa 'negligência' historiográfica que rebate na questão de raça & classe... Pra pensar...

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    3. Ah, é? Mas não é pra pensar muito não. Se está errado, tem mais é que corrigir. Valioso esse seu toque! Obrigado

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