Doses maiores

17 de dezembro de 2021

A direita que considera Geisel socialista

“Nós tivemos no governo militar uma orientação muito boa do Castelo Branco, mas o Geisel era socialista”. Esta pérola foi dita por Adolpho Lindenberg, um dos fundadores do movimento Tradição, Família e Propriedade. Está no livro “Menos Marx, mais Mises”, de Camila Rocha.

A frase deixa bem clara a disposição de alguns setores da direita brasileira de ir fundo em seu liberalismo selvagem. Só não haviam encontrado a oportunidade certa durante a ditadura, nem no período imediato posterior a ela.

A fundação do Instituto Liberal de São Paulo foi um marco. Mas, em 1992, o economista Paulo Rabello de Castro e o empresário Thomaz Magalhães fundaram no Rio de Janeiro o Instituto Atlântico. Um de seus principais focos, diz a autora:

...era atingir as classes populares. Para tanto, passaram a ser divulgadas pela organização as ideias de capitalismo popular e privatização popular, ou seja, como os trabalhadores comuns poderiam se beneficiar materialmente do estabelecimento de uma ordem política e econômica orientada para o desenvolvimento do livre-mercado. Desse modo, poucos anos após a fundação da organização, foi estabelecido um convênio estável com a Força Sindical, uma das maiores centrais sindicais do país, por meio do qual foram distribuídas aos trabalhadores, ao longo da década de 1990, mais de um milhão de cartilhas ilustradas pelo cartunista Ziraldo, as quais versavam sobre temas diversos dentro do enfoque do capitalismo popular. Um dos temas principais veiculados pelas cartilhas era a privatização da previdência.

A disputa de hegemonia chegava a um nível mais inteligente e perigoso. O descuido da esquerda nesse campo trouxe as trágicas consequências que estamos vivendo hoje.

Continua.

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