Doses maiores

27 de março de 2013

Com o neoliberalismo na alma

“Os Estados construíram o atual sistema neoliberal” é o título de entrevista com o sociólogo francês Christian Laval, concedida ao site espanhol “Periodismohumano”, publicada em 11/03. Laval está lançando o livro “La nueva razón del mundo”, em parceria com Pierre Dardot.

A primeira frase do livro diz tudo: “Não acabamos com o neoliberalismo”. O entrevistado justifica a afirmação: “além de o neoliberalismo ser uma doutrina, é um sistema de normativas em que toda a sociedade está imersa, também aqueles que nos dirigem”. É por isso, afirma Laval, que:

...na Europa, com todos os governos, sejam de direita ou de esquerda, que estão se vendo obrigados a seguir as normas que eles próprios ditaram: a regra de ouro do equilíbrio orçamentário, a estabilidade monetária, a luta contra a inflação... Tudo isso está nos levando a consequências sociais desastrosas.

Isso estaria acontecendo porque foram os Estados que introduziram o neoliberalismo na economia e na sociedade e não o contrário. Assim, a persistência neoliberal não seria produto apenas de covardia política ou malandragem eleitoral. Ainda que isso não justifique os covardes e malandros de plantão.

O mesmo mecanismo criou a lógica social que lhe corresponde. Como diz Laval, mesmo quando somos contra as privatizações, muitos de nós preferem o hospital privado e a escola particular, se pudermos pagar.

A esse respeito, a entrevistadora, Rebeca Mateos Herraiz, citou uma frase perfeita: “A economia é o método. O objetivo é mudar a alma”. Foi dita por Margareth Thatcher, em 1981. Três décadas depois, o objetivo foi alcançado. E insistir na disputa por governos é quase sempre mais uma forma de concretizá-lo.

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