Doses maiores

16 de maio de 2013

Espiritualidade, sim. Religiosidade, talvez

Em 05/04, o jornalista Pedro Sprejer divulgou no caderno “Prosa e Verso”, do Globo, o livro “Aldeia do silêncio”, de Frei Betto. Na entrevista que fez com o autor, destaca-se o seguinte trecho:

É preciso lembrar que as religiões surgiram há apenas oito mil anos. Já a espiritualidade é tão antiga quanto o ser humano, mais de 200 mil anos.

Em tempos de tantas intolerâncias religiosas é uma afirmação que faz pensar.

Por espiritualidade, os melhores materialistas poderiam entender a infinita capacidade humana de transformar tudo o que o rodeia. De iniciar no imaginário aquilo que resultará em coisas reais. Mas, ao produzir essas coisas, transforma também o próprio processo de feitura. De tal modo que o resultado final não é nem o projetado nem o que vinha sendo executado. É outra coisa.

Mesmo assim, o produtor se reconhece nela porque é algo que nasceu de sua prática concreta. E surge carregada com os significados acumulados durante todo o processo. Estamos falando tanto de um utensílio doméstico, quanto de um poema, uma ideia filosófica, uma descoberta mística...

Digamos que esta definição de espiritualidade agrade a alguns crentes e muitos ateus. E que a afirmação de Frei Betto levante a seguinte questão: por que em mais de 190 mil anos de existência, nossa espécie não precisou engessar sua espiritualidade na forma de religiões?

Talvez pelo fato de que a experiência religiosa é apenas uma de nossas muitas possibilidades.  A espiritualidade humana não cabe nos limites impostos por verdades eternas, imutáveis e infalíveis. Ainda mais quando elas servem à dominação e à exploração.

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