...Tunísia, Egito e Líbia
avançam em direção ao cenário menos esperado quando das revoluções: o
acirramento conservador proporcionado pelos movimentos islâmicos, os grandes
vencedores políticos da Primavera Árabe.
Mas é a linha conservadora
dos muçulmanos que ganha força. São os salafistas, que defendem a adoção do
Corão como regra absoluta para a vida civil. Não fazem parte dos atuais governos
islâmicos, mas sua grande influência popular empurra os políticos para o conservadorismo.
No Egito, por exemplo, em
2010, 54% da população eram favoráveis à separação por gêneros no ambiente de
trabalho e 82% apoiavam o apedrejamento para mulheres adúlteras. Nesse cenário
conservador, “até a descriminalização da mutilação do clitóris chegou a ser
cogitada pelo atual presidente”, diz a matéria.
Nada disso surgiu do nada. A
própria reportagem explica que durante os últimos governos ditatoriais da
Tunísia, mulheres que usassem véu e homens com barbas no estilo muçulmano eram perseguidos
pela polícia. Semeavam tempestades.
Além disso, os muçulmanos saíram-se
vencedores nas eleições “porque, no fim das contas, eram os únicos
verdadeiramente organizados politicamente", diz Stacey Gutowski, uma
professora inglesa especialista no assunto.
Mas a lenha dessa fogueira é a
situação econômica. Os atuais governos não ousam romper com modelos impostos
pelo FMI, que penalizam a maioria pobre há décadas. É o fanatismo neoliberal alimentando
a intolerância religiosa.
Só a luta unificada a partir
de baixo contra o capital e por amplas liberdades pode salvar a primavera árabe.
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