Doses maiores

18 de setembro de 2019

A guerra como fator de igualdade social

Em seu livro “A Grande Niveladora”, Walter Scheidel afirma que a violência seria a maior responsável pelos episódios de diminuição da desigualdade social na história humana.

Ela se manifestaria na forma de guerras, epidemias, colapso estatal e revoluções transformadoras. Seriam os quatro cavaleiros do apocalipse da nivelação social.

Segundo o autor, o papel da guerra é mais decisivo nas sociedades modernas devido ao recrutamento em massa, fenômeno histórico novo.

O alistamento generalizado leva grande parte da população a sacrificar suas vidas. Diante disso, os setores dominantes são obrigados a pagar mais impostos e aceitar políticas governamentais mais distributivas.

Mas outra das consequências das guerras modernas é a democratização. Parece estranho, mas Sheidel cita Max Weber:

A disciplina militar significou o triunfo da democracia, porque a comunidade desejava e foi compelida a garantir a cooperação das massas não-aristocráticas e, portanto, colocar em suas mãos armas e, juntamente com o poder das armas, é preciso estender direitos políticos. (História Geral da Economia - 1923)

De fato, a maioria das guerras modernas ocorre devido a choques surgidos entre setores da própria classe dominante, seja em nível nacional ou mundial. Para resolver o conflito, as facções ou governos envolvidos utilizam a população como bucha de canhão. Mas ao fazer isso, são obrigados a armá-la.

Terminada a guerra, é preciso desarmar os dominados antes que acabem se voltando contra aqueles que os enviaram para a morte. A solução passa por um afrouxamento da dominação política e melhores condições de vida.

Resumindo grosseiramente, justiça social sob o capitalismo dificilmente acontece sem o sacrifício de muitas vidas e o dedo popular no gatilho.

7 comentários:

  1. Ai Sergio, tá difícil aceitar essa tese. Flexibilização da burguesia porque distribuiu armas para o proletariado? Nem na guerra civil espanhola onde as armas não foram distribuídas pela burguesia. Cansamos de ver movimentos até revolucionários onde em determinado momentos são tomadas as armas sem dar nada em troca. Tem muita coisa para conversar sobre isso, mas nada no sentido do que indica o escritor.

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    1. Marião, posso até não ter me feito entender, mas o que é recrutamento em massa para travar uma guerra (civil ou não) se não a distribuição de armas para uma população? Não é uma guerra contra a fração da burguesia que distribuiu as armas, mas contra a fração burguesa adversária. O perigo é, terminada a guerra, a população armada se voltar contra quem a armou. É aí que entram medidas de alívio político e econômico pra amansar a massa armada.

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    2. Quanto ao nada em troca, o Estado de Bem-Estar Social do Pós-Guerra é um exemplo. O sufrágio universal depois da Guerra Civil americana e da Guerra Franco-Prussiana são outros.

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    3. Retificando, sufrágio universal masculino...

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    4. Tá Serginho, mas não consigo entender o temor da burguesia em o povo ter armas em seu poder. A questão não é armamentista, mas de poder resultante da guerra. A Revolução Russa conseguiu transformar a guerra a favor do proletariado (guerra entre burguesias de estados diferentes), mas na mesma guerra, em outros países, o que aconteceu? Vitória! Vitória! Vamos voltar para casa, ser felizes, continuando sendo ferrados e está bom. Acho que tenho pouco conhecimento para o assunto, e de mais a mais, não sei qual a relevância dele para o momento político atual. Vai me perguntar: por que discute? Ah, porque gosto mesmo não sendo relevante.

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    5. Mas ninguém está dizendo que o proletariado não saiu derrotado dessas guerras. Aliás, derrotado e massacrado. Só que a burguesia foi obrigada a ceder alguma coisa e, com isso, a injustiça social diminuiu. O caso russo é uma rara exceção e foi vitorioso exatamente porque ao assumir o poder, a primeira coisa que os bolcheviques fizeram foi colocar um fim à participação russa na guerra. Quanto à pertinência do assunto, neste caso, menos, mas outros elementos apontados no livro talvez sejam mais relevantes. Por exemplo, quando ele fala sobre o papel das revoluções transformadoras. Mas espero chegar lá.

      Beijo, aí, meu polemista favorito!

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