Doses maiores

9 de setembro de 2019

O professor cínico. Ou descarado, mesmo

”Os mais afetados por uma recessão são os mais ricos”, diz o professor Steven Neil Kaplan. A frase serve de título para entrevista concedida por ele e publicada por Raquel Landim na Folha, em 02/09/2019.

O depoimento é uma coleção de pérolas do cinismo neoliberal mais escancarado. A lógica da afirmação de Kaplan destacada pelo título é a seguinte:

O mercado de ações colapsa e as pessoas perdem seus empregos. Se as ações caírem 30%, o patrimônio dos mais ricos cai 30%, enquanto os mais pobres recebem o apoio da rede de proteção do Estado. Os mais afetados, portanto, são os ricos.

Ele também diz que “os CEOs das grandes empresas, que recebem US$ 15 milhões por ano, não ganham mais do que deveriam”. Verdade que ganham muito, diz, mas “menos do que recebiam no início dos anos 2000, se ajustarmos pela inflação”.

Kaplan reconhece que a desigualdade cresceu pelo mundo. Admite que “precisamos de uma rede de proteção social eficiente”. Porém:

...se você me perguntar se eu prefiro voltar atrás e trocar a queda da fome no mundo pela solução desse problema, minha resposta é, absolutamente, não.

Toda essa “racionalidade” combina com outra ideia, que Kaplan diz compartilhar com seus estudantes:

O dinheiro é mais importante do que a sua mãe. Você pode ser bem-sucedido sem sua mãe, mas uma empresa não sobrevive sem caixa.

Steven Neil Kaplan é chefe do centro de empreendedorismo da Universidade de Chicago. Para ele, empreendedores são aqueles que desprezam a mãe e esperam lucrar com a fome no mundo.

Além de votar em Trump e Bolsonaro, claro.

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