Doses maiores

9 de abril de 2020

A extinção da espécie mais perigosa

John Bellamy Foster é professor da Universidade de Oregon, Estados Unidos, e um dos grandes estudiosos das relações entre ecologia e teoria marxista.

Em recente entrevista concedida ao “Observatorio de la crisis”, ele não tem dúvidas sobre a principal causa da atual pandemia: é o próprio capitalismo.

Foster sustenta essa afirmação citando pesquisas do biólogo evolutivo e epidemiologista Rob Wallace, segundo as quais:

.. a origem da COVID-19 e outros vírus recentes tem sido a penetração mais intensiva do agronegócio nos sistemas naturais, o que criou fissuras nos ecossistemas e entre as espécies, causando o surgimento de pandemias globais. Em “Notes on a Novel Coronavirus”, Wallace argumenta que a solução estrutural é a construção de “um ecossocialismo que atenue a lacuna metabólica entre ecologia e economia, entre o urbano, o rural e o selvagem. Evitando assim o surgimento de patógenos piores desse tipo”.
Mas essa denúncia não é nova. Foster cita o zoólogo Ray Lankester, “protegido de Charles Darwin” e amigo de Marx, que em seu livro “O Reino do Homem”, no capítulo chamado “As revanches da natureza”, escreveu:
Em um esforço ambicioso para produzir uma grande quantidade de animais e plantas (...) o homem acumulou grandiosas espécies, de maneira antinatural, em campos e fazendas e também concentrou multidões em cidades-fortalezas.
Lankester escreveu essas palavras em 1907. Na época, não se falava em Antropoceno, esta era geológica definida pelo enorme aumento das forças produtivas humanas, acompanhada das consequências mais desastrosas. Entre elas, a extinção de muitas espécies de vida.

O Covid é outra revanche da natureza. Esperemos que não cause a extinção da espécie mais perigosa.

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