Doses maiores

17 de abril de 2020

Pandemia e oportunismo: keynesianismo para ricos

Grosso modo, políticas econômicas keynesianas seriam aquelas que promovem generosos gastos públicos para impulsionar o investimento privado, criando empregos e distribuindo renda.

Os neoliberais costumam ser inimigos jurados dessas políticas. Mas diante da enorme crise causada pelo coronavírus, muitos deles tornaram-se keynesianos temporários. E oportunistas.

É o que mostra o debate sobre a aprovação da PEC 10/2020 no Congresso. Como diz nota da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, recém divulgada, o artigo 7º do projeto em discussão no Senado:

...consiste em facilitar e aumentar a drenagem de recursos públicos para o mercado financeiro, autorizando o Banco Central a repassar recursos, da ordem de trilhões de Reais, aos bancos sem controle social e estatal, sem contrapartida que garanta a implementação de políticas de saúde e de interesse social e nacional. Esses recursos liberados aos bancos sairão do Tesouro Nacional e impactarão o orçamento público e a dívida pública, recaindo assim sobre os ombros de toda a população.
Além disso, antes mesmo de qualquer medida aprovada pelo Congresso, R$ 1,2 trilhão já foram liberados pelo Banco Central diretamente para o sistema financeiro, passando longe de quem realmente pode manter e criar empregos, como as pequenas e médias empresas.

Quanto aos míseros R$ 600,00 prometidos aos trabalhadores informais, seu pagamento continua emperrado por empecilhos burocráticos. Afinal, diferente dos milhões de pobres sem CPF, os tubarões especuladores podem ser facilmente encontrados. A não ser quando se trata de puni-los por seus frequentes crimes fiscais.

O que está sendo colocado em prática é um keynesianismo para milionários conjugada a uma política de abandono e extermínio para os pobres e remediados.

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