Doses maiores

15 de abril de 2020

A pandemia e o mecanismo de morte

São 13 milhões de pessoas morando em favelas no Brasil. Aglomeradas em pequenas unidades habitacionais, com saneamento básico precário ou inexistente.

Há mais de 812 mil encarcerados. Sobrevivem em celas superlotadas e com péssimas condições de higiene.

Cerca de 120 mil famílias vivem em situação de rua. Amontadas sob marquises, viadutos, pontes. Sem cuidados sanitários básicos, expostos a todo tipo de doença e risco.

Há um número significativo de pacientes em instituições manicomiais. Grande parte deles abandonados à própria dor.

São 78 mil idosos alojados em asilos. Em dependências que raramente permitem evitar aglomerações. Em lugares que, muitas vezes, não contam com condições ideais de limpeza.

Por volta de 18.900 crianças e adolescentes estão internados em instituições públicas, com seus dormitórios e refeitórios coletivos.

São milhares trabalhando em condições análogas à escravidão, sobre as quais não é preciso discorrer quanto a sua situação de saúde e dignidade.

São muitos milhões de trabalhadores atuando em fábricas e serviços, sem qualquer fiscalização quanto ao cumprimento das medidas exigidas para assegurar proteção a sua saúde.

São quase todos pobres e pretos.

Há um sistema econômico inteiramente voltado para os lucros apropriados por muito poucos mediante a exploração da grande maioria.

Há um sistema de dominação inteiramente voltado para manter a maioria submissa, subordinada, encarcerada, alienada.

Há um mecanismo genocida em funcionamento há muito tempo. Esperando oportunidades como a que está sendo oferecida agora.

Contra tudo isso, há cerca de 3,5 milhões de trabalhadores no SUS. Eles são nossa maior defesa contra o vírus. Mas sozinhos podem pouco contra o mecanismo de morte.

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