Aqueles mulatos que não se fazem
absolutamente ociosos, se empregam no exercício de músicos, os quais são tantos
na Capitania de Minas que, certamente, excedem o número dos que há em todo o Reino.
Os músicos de que fala
o texto produziam obras eruditas. Eram filhos de pai português e mãe africana, coisa comum no Brasil Colônia. Mas como se tornaram músicos? Segundo o musicólogo
Paulo Castagna:
Na primeira metade do século XVIII
ainda vigorava, no Brasil, o monopólio dos músicos portugueses. Mas com o
desenvolvimento urbano, enriquecimento e proliferação das irmandades, a demanda
de música aumentou fantasticamente na segunda metade desse século. Passou a não
haver suficiente número de profissionais brancos para atender ao enorme aumento
das encomendas de música. Foi assim que os afrodescendentes entraram para esse
mercado novo e promissor, atendendo com eficiência às urgentes e numerosas
solicitações das irmandades.
Entre os mais
talentosos estavam José Maurício Nunes Garcia, Lobo de Mesquita e Castro Lobo. Todos
vítimas de grandes humilhações e constrangimentos.
Castro Lobo, por
exemplo, tornou-se padre. Mas antes precisou dar um jeito de provar que seus
pais e avós eram “inteiros e legítimos cristãos velhos, limpos de sangue, sem fama
alguma de judeus, mouros, mulatos ou mouriscos, ou de alguma outra infecta
nação”.
Em relação a Lobo de
Mesquita, Castagna afirma que ele “viveu no mesmo período de Mozart, Haydn e
Beethoven, que compuseram música de uma beleza sonora incomparavelmente maior
ao de toda a música de seus contemporâneos no Brasil e no continente americano
da época”. Mas, diz o musicólogo:
...é preciso considerar que esses
compositores não foram descendentes de escravos africanos, nem nascidos em uma
possessão europeia na América; não foram tratados com devastador preconceito
pela sociedade branca da época, e não tiveram que aprender música em condições
precárias, a partir de poucos recursos e com escassos mestres; não enfrentaram
a forte competição profissional e a luta pela sobrevivência em meio a condições
de vida bem mais desfavoráveis que as do Velho Mundo; não enfrentaram a
rejeição do próprio Estado e não tiveram a maior parte de suas composições
perdidas ou mutiladas e nem impressas somente dois séculos após sua morte.
E conclui:
Se Mozart, Haydn e Beethoven
tivessem nascido e vivido como mulatos em Minas Gerais no século XVIII,
provavelmente não teriam feito mais do que lá fez Lobo de Mesquita.
As informações acima são
da série de programas “Alma Latina: Música das Américas sob domínio europeu”, de
Paulo Castagna. Ela é transmitida pela Rádio Cultura FM de São Paulo. Também disponível
na página http://paulocastagna.com/alma-latina.
Bom dia. Infelizmente ainda sobrevivi no carnaval da Bahia, os percussionistas e batuqueiros como eu, Monica Millet, não temos o menor valor, mesmo valor dado aos trios elétricos pelos camarotes da corte instalada nas avenidas e ruas da cidade. A máquina mortal da cultura afro descendente, Associação de trios da Bahia, e afins demarcam, hostilizam, o espaço conforme sua conveniência, nos garantindo as sobras da multidão. M.Millet
ResponderExcluirNão entendi direito, mas imagino que você esteja se referindo à indústria do carnaval na Bahia, que é tão terrível quanto qualquer outra indústria. E ainda conta com a cumplicidade de muitos afrodescendentes. Mas é assim há muito tempo. Na época da escravidão não havia capitães do mato tão negros como suas vítimas?
ResponderExcluirValeu o comentário, Monica.
Abraço