Em meio às hostilidades contra os médicos
estrangeiros que chegaram ao Brasil, os conservadores não hesitaram em revelar
seu racismo secular. Por isso, algumas pessoas andaram divulgando a história de
Hamilton Naki na internete.
Este sul-africano nascido pobre em uma
pequena aldeia chegou a dar aulas de medicina na Universidade da Cidade do
Cabo. Mas jamais pode clinicar porque as leis racistas do apartheid proibiam
que negros exercessem a medicina.
Naki começou a trabalhar na universidade
como jardineiro. Aos poucos desenvolveu suas habilidades e conhecimentos
tratando animais que serviam de cobaias. Seu talento e inteligência chamaram a
atenção do médico Christiaan Barnard, com quem passou a trabalhar como técnico
de laboratório. Mesmo recebendo um aumento na remuneração permaneceu registrado
como jardineiro.
Barnard ficou famoso por ter realizado o
primeiro transplante de coração bem sucedido entre seres humanos, em dezembro
de 1967. Mas há relatos que dizem que o verdadeiro responsável pela cirurgia
foi Naki. Ele teria orientado seus colegas, já que não podia tocar nos
pacientes. Chegou a ser fotografado com os restante da equipe, mas a direção da
faculdade afirmou que se tratava de um faxineiro.
Com o fim do apartheid veio o
reconhecimento. Em 2002, Naki foi condecorado com a Ordem Nacional de
Mapungubwe, destinado aos notáveis da ciência médica do país. Em 2003, finalmente
recebeu o diploma de medicina da Universidade da Cidade do Cabo. Morreu dois
anos depois, aos 78 anos.
A história poderia ser considerada bonita,
mas não é. Nenhum reconhecimento apaga a vergonha que representa o racismo.
Principalmente, em um ofício cuja missão maior é salvar vidas.
Leia
também: Os médicos cubanos e a direita à
vontade
Nenhum comentário:
Postar um comentário