Doses maiores

30 de agosto de 2013

O cirurgião que não podia usar as mãos

Em meio às hostilidades contra os médicos estrangeiros que chegaram ao Brasil, os conservadores não hesitaram em revelar seu racismo secular. Por isso, algumas pessoas andaram divulgando a história de Hamilton Naki na internete.

Este sul-africano nascido pobre em uma pequena aldeia chegou a dar aulas de medicina na Universidade da Cidade do Cabo. Mas jamais pode clinicar porque as leis racistas do apartheid proibiam que negros exercessem a medicina.

Naki começou a trabalhar na universidade como jardineiro. Aos poucos desenvolveu suas habilidades e conhecimentos tratando animais que serviam de cobaias. Seu talento e inteligência chamaram a atenção do médico Christiaan Barnard, com quem passou a trabalhar como técnico de laboratório. Mesmo recebendo um aumento na remuneração permaneceu registrado como jardineiro.

Barnard ficou famoso por ter realizado o primeiro transplante de coração bem sucedido entre seres humanos, em dezembro de 1967. Mas há relatos que dizem que o verdadeiro responsável pela cirurgia foi Naki. Ele teria orientado seus colegas, já que não podia tocar nos pacientes. Chegou a ser fotografado com os restante da equipe, mas a direção da faculdade afirmou que se tratava de um faxineiro.

Com o fim do apartheid veio o reconhecimento. Em 2002, Naki foi condecorado com a Ordem Nacional de Mapungubwe, destinado aos notáveis da ciência médica do país. Em 2003, finalmente recebeu o diploma de medicina da Universidade da Cidade do Cabo. Morreu dois anos depois, aos 78 anos.

A história poderia ser considerada bonita, mas não é. Nenhum reconhecimento apaga a vergonha que representa o racismo. Principalmente, em um ofício cuja missão maior é salvar vidas.

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