Ainda jovem, o soldado Drogo
é enviado para uma distante fortaleza, junto a um território de povos bárbaros.
É de lá que a qualquer momento deve partir um ataque, garantem seus superiores.
Mas o tempo se arrasta e o combate com as glórias que certamente traria não
acontece.
Quando o inimigo finalmente
ameaça atacar, Drogo está velho demais para combater. É dispensado e deixa o
forte. Morre a caminho de sua terra natal.
Esta é a triste história do
livro “Deserto dos Tártaros”, de Dino Buzzati. A obra se presta a diversas
interpretações. Uma delas, certamente, diz respeito às fortalezas que se
multiplicam pelo mundo. Sempre sob o pretexto de prevenir ataques de
“bárbaros”.
São as muralhas com que
Israel cerca e asfixia os palestinos. O muro que impede a entrada de mexicanos
nos Estados Unidos. As fronteiras que isolam a Europa próspera de europeus,
africanos, asiáticos e outros desafortunados.
Liberdade de circulação, só
para as mercadorias. Principalmente, aquelas feitas nos países periféricos
pelos pobres que não podem seguir o mesmo caminho que o produto de seu
trabalho.
Os “bárbaros”, tão temidos,
não passam de maltrapilhos, como mostram as recentes ondas de africanos
chegando a Itália e Espanha, implorando que alguém explore seu trabalho.
Essas hordas de pedintes são
fabricadas aos montes pela desigualdade capitalista, que transforma grande
parte do mundo em desertos de esperança e decência.
Será assim enquanto a grande
maioria continuar reduzida ao papel imposto a Drogo. Aguardando seu fim
desonroso e sem glórias. Inconsciente de que os verdadeiros bárbaros estão ao
seu redor, dentro das fortalezas, e são seus próprios comandantes.
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