Doses maiores

4 de agosto de 2014

O novo templo e seus vendilhões

Para alguns, a famosa passagem bíblica em que Jesus expulsa os “vendilhões” do templo é a mais radical dos evangelhos. A atitude atingiu a nobreza clerical que se beneficiava do aluguel daquele espaço sagrado. Neste momento o líder dos judeus pobres teria atraído contra si o ódio da classe dominante judia e pavimentado seu caminho para a crucificação.

Mais de dois mil anos depois, a grande maioria dos templos são palácios luxuosos disfarçados como igrejas e catedrais. Seus pregadores, príncipes que envergam as roupas mais luxuosas. Devassos de fala mansa, convivem com o poder temporal da forma mais promíscua. O Vaticano tem até um banco, tão rico quanto corrupto.

Mas os cristãos protestantes não ficam atrás. Principalmente as ramificações neopentecostais que adoram a ostentação e abençoam o acúmulo de bens materiais. A evidência mais recente disso é o Templo de Salomão, inaugurado pela Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo.

Três vezes maior que a Basílica de Aparecida do Norte, a construção simboliza todo o poderio a que chegou a organização de Edir Macedo. À inauguração compareceram a presidenta do País, o governador paulista e o prefeito paulistano. Todos de olho no voto dos quase 2 milhões de fiéis da igreja. Mas não só.

Adentrar o novo santuário custa 45 reais e os dízimos serão recolhidos por uma moderna esteira rolante. Tamanho potencial econômico não pode ser desprezado. Afinal, levantamento recente da Justiça Eleitoral mostrou que entre 1994 e 2010, só o custo das eleições presidenciais cresceu 85%, de R$ 190 milhões para R$ 352 milhões.

Um novo templo para vendilhões antigos e recentes.

Leia também: O Corão e o pluralismo religioso

2 comentários:

  1. Muito bom, Sérgio. A foto de Dilma junto com Alckmin e Edir é pra ficar pra história. Muito emblemática. Parabéns pelo texto.

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