“Sem o seu trabalho,
um homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata. Não dá pra ser
feliz...”, diz a bela canção de Gonzaguinha.
Para Marx o que define
o ser humano é o trabalho. Não precisa ser marxista para concordar. Basta olhar
em volta.
No entanto, não é
marxista considerar que se trata de qualquer trabalho. Só serve aquele que seja
atividade criativa. Transformadora não apenas do mundo material, mas do próprio
trabalhador.
O desemprego é uma das
mais graves doenças sociais da contemporaneidade. Mas ter um emprego está longe
de garantir alguma realização pessoal.
Essa é uma verdade
óbvia para muitas ocupações mal remuneradas, pesadas, cansativas, repetitivas,
humilhantes, sujas e insalubres.
Mas isso é menos
evidente para os “shit jobs”, ou “trabalhos de merda”, conceito criado pelo
antropólogo David Graeber.
Segundo ele, trata-se
de um tipo de atividade criada pelo mundo corporativo sob o capitalismo
financeiro. Uma “forma de trabalho assalariado que é tão inútil, desnecessária
ou daninha, que até mesmo o próprio trabalhador não consegue justificar sua
existência, ainda que – como parte de suas condições de emprego – se sinta
obrigado a fingir o contrário”.
Assessores que não
assessoram. Executivos que nada executam. Inúmeras reuniões e decisões sem
qualquer objetividade. Enormes relatórios que ninguém lê. Tudo isso em empresas
altamente lucrativas.
Mas não é verdade que
esse tipo de trabalho não produza nada. Produz depressão, infelicidade e,
principalmente, desperdício e concentração de recursos numa sociedade e
planetas tão carentes deles.
Só um sistema de bosta
para criar um trabalho bem remunerado com o qual não dá pra ser feliz.
hehehe... gostei. Desde do título - bem desbocado - até o conteúdo. Estou, inclusive, lendo o livro do Ricardo Antunes, Adeus Ao Trabalho? Trata, entre outras coisas, do descolamento do trabalho direto para esse de supervisão. Vivi ele, todo mundo reclama de como é improdutivo, mas vivem cada vez mais alargando suas fronteiras. É isso mesmo, um trabalho de merda. Ah, "by the way", lindo resgate da canção do Gonzaguinha para colocar uma Pérola na Pílula. Que visão poética desse cara sobre a centralidade do trabalho. Marx aplaudiria. Saudades, Gonzaguinha, saudades.
ResponderExcluirImportante ler o Antunes. Foi um dos primeiros a denunciar aquela papagaiada de que a classe trabalhadora tinha acabado, lé no final dos anos 1980. O mais recente dele é "O privilégio da servidão". Ainda não li, mas espero ler.
ExcluirValeu!
Muito bacana sua resenha. Já tinha lido algo também na Folha. Parece que o autor é um dos inspiradores do Occupy Wall Street. Vale a leitura!
ResponderExcluirBem, não é resenha porque não li o livro. Só tomei conhecimento via alguns artigos. Mas deve valer muito a leitura.
ExcluirAbraço
Valeu, Sérgio! Defendo que a categoria trabalho é chave para se compreender o processo de produção social de sofrimento psíquico. Já que a gente também está falando de bibliografia, lembro 'Os sentidos do trabalho', do Ricardo Antunes. Ele também organizou uma seleção de textos de Marx e Engels em dois volumes editados pela Expressão Popular: 'Dialética do trabalho' (I e II). Há um livro mais antigo, da Edith Seligmann-Silva, 'Desgaste mental no trabalho dominado' e um mais recente, organizado por Graça Druck e Tânia Franco, 'A perda da razão social do trabalho'. Mas há uma publicação, joia rara, difícil de se achar, que recomendo: 'Do assédio moral à morte de si: significados sociais do suicídio no trabalho'. Abraços!
ResponderExcluirÓtimas dicas, Alexandre. Obrigado.
ExcluirAbração!