Doses maiores

17 de julho de 2018

A duvidosa sapiência do Homo sapiens

O que mais tem sido lembrado na vitória da seleção francesa na última Copa do Mundo é a diversidade étnica de seus jogadores. Dos 22 atletas, 18 são filhos ou netos de pessoas vindas de lugares tão diferentes como Filipinas, Haiti, Congo, Senegal, Mali, Angola, Guiné, Togo, Mauritânia, Argélia, Camarões, Ilha de Guadalupe, Martinica, Alemanha, Espanha e Portugal.

Mas antes deles, o selecionado francês também contou, por exemplo, com o polonês Kopa, o italiano Platini, o espanhol Fernández e o argelino Zidane.

De qualquer modo, o que se deveria perguntar é o que significa, afinal, ser francês “legítimo”? Provavelmente, somente deveria ser aceito como tal alguém que provasse sua descendência direta de Asterix, o gaulês. Mesmo assim, um dos criadores do famoso personagem é filho de espanhóis e o outro, de ucranianos.

O fato é que a diversidade e a mistura sempre foram regra na formação das populações humanas. E uma recente pesquisa arqueológica prova que isso é verdade inclusive para a pré-história. Estudo liderado pelos pesquisadores Eleanor Scerri e Lounes Chikhi, em Oxford, mostra que o “Homo sapiens” coexistiu durante muito tempo com outros hominídeos. Principalmente, com o “Homo floresiensis”, o “Homo neanderthalensis“ e o “Homo naledi”.

Nossa espécie seria resultado dessa mistura toda aí. Portanto, nunca houve uma população humana pura. Nosso único atributo preservado ao longo de muitos milênios seria a “sapiência”. Acredita-se que esta capacidade para o acúmulo de conhecimento e sabedoria nos distinguiria dos outros animais. Mas, diante da persistência de teorias e comportamentos racistas e discriminatórios, talvez mesmo esta característica ainda esteja muito longe de prevalecer entre nós.

Leia também:
Na pré-história, faça amor, não faça guerra

6 comentários:

  1. Boa, muito boa Pílula. Era desse tipo que estava sentindo saudades. Saudades também do nosso querido, rebelde e inconsequente "herói" Asterix. Não conhecia as ascendências dele. De onde tirou isso? E também não entendi: ele é descendente de espanhol por parte de pai e de ucraniano por parte de mãe? Quanto a seleção francesa ando irritado. Não pelo futebol que jogou, achei mais que merecido o título comparando com as demais, embora achei que foi econômica em campo, podia ter feito mais. Entendo que o pragmatismo a impediu. Mas andam dizendo que se ganha títulos assim. Fazer o quê. A minha irritação vem principalmente das mensagens e postagens de um monte de gente, inclusive de esquerda, justificando torcer pela seleção francesa porque tem na sua seleção essa diversidade étnica citada na Pílula, e por ser a "proprietária" do slogan de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade". E do outro lado teríamos a Croácia com seus hinos fascistas e muitas outras coisas horrorosas. Pois bem, se fosse fazer uma opção política e ideológica para quem torcer, com certeza não torceria para nenhuma das duas seleções. Se temos do lado da Croácia esse conteúdo fascista, não podemos esquecer do jugo colonialista da França. Acrescido de que a França, a partir de 1990, vem buscando em suas colônias e arredores, "pés de obra" para compor sua seleção, deixando muitos imigrantes "jogados ao mar", literalmente. Ou seja, o que lhes interessa são alguns imigrantes, os com talento que podem lhe render vitórias. Merde! Ah tá, não torci para nenhuma das duas seleções. Estava até gostando do futebol praticado pela França contra Argentina e Uruguai, mas depois percebi melhor o esquema tático de retranca que adotaram - e que prevaleceu nessa copa -, utilizando de contra-ataque, e contando com o talento de algum de seus jogadores. Quase não torço nem pelo Brasil nessa copa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também não consegui torcer pra ninguém. Pela França contra a Croácia, levemente, por simpatia aos negões, mesmo. Mas nada sério.
      Quanto ao Asterix, ele foi criado por Uderzo, que eu achava que era espanhol, e Goscinny, que sabia que era francês. Fui conferir e descobri que ambos são franceses, mas filhos de estrangeiros.
      Valeu!

      Excluir
    2. Bobeira minha, imaginei os pais do Asterix como outros personagens. Não tinha sentido.

      Excluir
    3. Bobeira, nada. Ficou ambíguo, mesmo. Troquei por "criadores".

      Excluir
  2. Essa polêmica da Copa realmente foi uma "faca de dois legumes", pois a multiculturalidade da seleção francesa tanto poderia ser um fator progressista (em tese), quanto um certo elogio a a uma espécie de "democracia racial" (torcendo o nosso famigerado conceito) inexistente.
    Os carros queimados ao fim da festa ficaram aí como testemunhas... rs

    Abraço
    Bruno

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O fato é que não dá pra separar essa discussão da questão de classe. Ou seja, multiculturalismo, mesmo, só com o fim revolucionário do capitalismo.

      Excluir