No
livro “Anatomia de uma derrota”, Paulo Perdigão faz uma detalhada descrição da
vitória do Uruguai sobre o Brasil no final da Copa de 1950, no Maracanã. Até
2014, a maior tragédia do futebol brasileiro.
Mas
um trecho da obra destaca a partida Brasil e Espanha, em que, na condição de
locutor, Ary Barroso descreveu o elenco brasileiro do seguinte modo:
A música é lenta e suave. Danilo está com a pelota.
Ligeira variação. Passa a Bigode, e a melodia vai num crescendo violento. A
técnica de Danilo lembra Chopin, manso, doce, inspirado. Bigode é a selvagem
poesia nacional de Villa-Lobos. Jair é Wagner, poderoso e dramático. Quando a
bola está com Zizinho, é Mozart tecendo filigranas, mas, se entrega a Ademir...
Beethoven? Não, nem Liszt, Strauss, Tchaikovsky ou Verdi. O futebol de Ademir é
a música da terra, de ritmo marcante e beleza inconfundível. Que faz Ademir a
caminho do arco, senão passes do mais puro samba, da mais brasileira das
capoeiras, e, se dribla, é maxixe autêntico, é jongo, é o frevo de sua terra
pernambucana. Um estrangeiro disse que o selecionado do Brasil é uma orquestra
sinfônica afinada. Acrescente-se que, sob a batuta de Ademir, é uma orquestra
tocando em ritmo de samba.
O
jogo terminou 6 a 1 para o Brasil. Antes, já havíamos batido a Suécia por 7 a
1. Ou seja, quando chegamos ao último jogo, ninguém esperava que nossa
orquestra acabasse dançando ao ritmo de um tango uruguaio misturado com candombe.
Portanto,
melhor evitar metáforas musicais ou quaisquer outras. Afinal, o futebol já é,
ele próprio, uma poderosa metáfora.
Bonito. Me encanta a poesia do futebol e o futebol da poesia. Pena que nessa copa estou vendo mais marcha militar.
ResponderExcluirIsso. Esqueceram que é metáfora.
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