Doses maiores

9 de julho de 2018

João Saldanha e a “burrice siderúrgica” no comando da seleção

Em 05/07/1982, a lendária seleção brasileira de Telê Santana deu adeus à Copa, perdendo para a Itália. João Saldanha estava lá e naquele mesmo dia escreveu em sua coluna para o Jornal dos Esportes:

Pois querem saber se fico nervoso na hora de jogos de Copa do Mundo? Fico sim.

Mas só tremo na primeira fase eliminatória, que pode ser vexaminosa. E sabem por quê? Porque a gente sempre diz, afirma e reafirma que nosso futebol é o melhor do mundo. Pois acho que é e não tenho a menor dúvida. Daí o medo em perder logo de cara.

A gente perde, volta melancolicamente porque os patrocinadores marcam logo a passagem. As companhias de aviação, sempre quando se pede passagem, dizem que precisam confirmar, que precisam computar e o diabo a quatro. Mas para o time que perde jogo na Copa é só chegar no balcão que a mocinha diz logo: "Tem sim, o avião está vazio." Bandida.

Agora tiro de letra. Agora já pudemos provar a todos e principalmente aos nossos torcedores, isto é o mais importante, que nosso futebol, o futebol brasileiro é o maior espetáculo da terra.

Mas, a partir daí, o jornalista só veria as coisas piorarem. Depois de testemunhar outra desclassificação em 1986, Saldanha morreria em plena Copa de 1990, na Itália. Na cama do hospital, escreveu um derradeiro artigo dizendo que a seleção brasileira estava entregue à “burrice siderúrgica” de seu treinador, Sebastião Lazaroni.

Responsável por mais uma desclassificação brasileira, Lazaroni logo deixaria a seleção. Já quanto à burrice, há controvérsias. Talvez, só tenha deixado de ser siderúrgica.

Leia também: João Saldanha bem que avisou

2 comentários:

  1. Grande Sérgio, naquele dia de 1990, assisti, via TV Manchete, o que seria a derradeira resenha televisiva de Saldanha. Ele falou à vontade, talvez por mais de uma hora. Como sempre, uma aula de história e geopolítica. Um professor que o povo compreendia, fosse na rua, no rádio, na TV ou no jornal. Faz uma falta imensa. Bem, lembro-me bem: enquanto via e ouvia João Sem Medo, naquela noite (seria noite, já?), lágrimas desciam pelo meu rosto. Intuição danada, coisas do inconsciente, sei lá. Será que a gravação daquele programa se perdeu ou está à espera de resgate? Agradeço por evocar a memória de Saldanha. "Vida que segue", ele diria...

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    1. Realmente, Alexandre, seria muito legal recuperar a tal gravação.
      Abraço!

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