Doses maiores

22 de agosto de 2018

Capitalismo sem monopólio da propriedade ainda é capitalismo

Edmar Bacha é um economista neoliberal, famoso por ter ajudado a criar o Plano Real. Recentemente, anda entusiasmado com um livro lançado nos Estados Unidos. Trata-se de “Mercados Radicais: Desenraizando o capitalismo e democracia para uma sociedade justa”, de Yale Glen Weyl e Eric Posner.

Em artigo para “O Globo”, Bacha resumiu a proposta do livro.

Os donos de bens de capital teriam que declarar em registro público os preços desses bens. Sobre esses valores, eles pagariam um imposto cuja arrecadação garantiria uma renda básica para todos os cidadãos. Por outro lado, os proprietários seriam obrigados a vender os bens para qualquer pessoa pelo valor declarado.

Assim, enquanto o imposto faria com que o proprietário tendesse a subestimar o preço do bem, a obrigação de vendê-lo, e ao preço declarado, faz com que ele tenda a declarar um preço honesto.

Desse modo, diz ele, “todo capitalista passa a ser uma espécie de posseiro. Eles retêm o direito ao uso do bem, mas têm que vendê-lo caso alguém ofereça um preço maior do que o seu por ele”.

Mas fundamental para o capitalismo não é necessariamente o monopólio da propriedade dos meios de produção. É o monopólio de seu controle. Prova disso são alguns dos mais recentes sucessos do mercado mundial.

A Uber é a maior empresa de transporte urbano e a AirBnb, de hospedagem. Nenhuma delas possui automóveis ou hotéis. Ambas monopolizam enormes fatias do mercado. É a “mão invisível do mercado” em sua forma mais acabada.

O que Bacha considera “uma bela utopia” é só mais uma tentativa de repaginar a velha e feia exploração.

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