Pawel Kuczynski |
Mas
não é nada disso. O conceito é da filósofa e feminista estadunidense Nancy
Fraser. Em ótima entrevista publicada no portal Outras Palavras, ela diz:
O que é específico do “neoliberalismo progressista” é
que ele combina políticas econômicas regressivas, liberalizantes, com políticas
de reconhecimento aparentemente progressistas. Sua economia política baseia-se
em “livre comércio” (que em realidade significa livre movimentação do capital)
e desregulamentação das finanças (que empodera investidores, bancos centrais e
instituições financeiras globais para ditar políticas de “austeridade” para o
Estado por meio de decretos e da chantagem da dívida). Entretanto, seu lado de
reconhecimento centra-se na compreensão liberal do multiculturalismo, do
ambientalismo e dos direitos das mulheres e LGBTQ [lésbicas, gays, bissexuais,
transgêneros, queer]. Inteiramente compatível com o neoliberalismo financeiro,
essa compreensão é meritocrática, oposta ao igualitarismo. Focados na
“discriminação”, eles buscam assegurar-se de que uns poucos indivíduos
“talentosos” de “grupos sub-representados” possam ascender ao topo da
hierarquia corporativa e alcançar posições e remuneração paritárias com os
homens heterossexuais brancos de sua própria classe.
O que não é mencionado, contudo, é que enquanto esses
poucos “quebram o teto de vidro”, todo o resto continua preso no porão.
Essa
combinação é explorada com sucesso pela direita para alimentar um clima de
ressentimento contra as lutas progressistas.
Em
plena campanha eleitoral, esse importante debate chega atrasado ao Brasil. Mas
as eleições vão passar, as encrencas vão permanecer e, muito provavelmente, se
tornar ainda mais graves.
Leia também: Revolução é tudo ao mesmo tempo agora
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