Doses maiores

18 de julho de 2014

As últimas badaladas do Relógio do Apocalipse

Em 1947, começava a Guerra Fria entre os blocos estadunidense e soviético. Surgia o chamado “Relógio do Apocalipse” por iniciativa de cientistas da Universidade de Chicago. Os ponteiros simbólicos se aproximam da meia-noite cada vez que a existência da humanidade é ameaçada por um conflito nuclear.

A União Soviética já não existe. Mas a arrogância imperialista estadunidense e a existência de várias potências nucleares menores mantêm o tic-tac sinistro em andamento. Além disso, ao temor pelo desastre atômico se acrescentaram as ameaçadoras consequências do aquecimento global.

Um dos efeitos da era nuclear foi tornar a atual democracia ainda mais limitada. O tempo entre o disparo de um míssil e sua chegada ao alvo impediria qualquer debate mais amplo sobre a conveniência ou não de responder ao ataque. Seria preciso confiar cegamente nos poucos encarregados de apertar o botão.

Mas no caso do aquecimento global, a situação poderia ser diferente. A “meia-noite” trágica seria a superação da concentração mensal de 400 ppm (partes por milhão) de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Acima desse nível, a elevação da temperatura começa a ameaçar a existência da grande maioria da espécie humana no planeta. 

Não se trata de um foguete viajando a milhares de quilômetros por hora. Parlamentos e governos sabem do problema há anos. Ou simplesmente negam sua existência ou adiam providências. Não surpreende. Seus mandatos são bancados pelos grandes emissores do gás que empesteia nosso ar.

Entre 30 de março e 03 de julho passados, a atmosfera terrestre apresentou mais de 400 ppm de CO2 todos os dias. Já não esperamos a meia-noite. Apenas a última badalada.


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