Excelente a reportagem “Vozes
dos povos da floresta”, de Bolívar Torres, publicada no caderno “Amanhã” de O
Globo, em 30/07. Principalmente, quando apresenta algumas informações de Pedro
Cesarino Niemeyer, autor do livro “Quando a Terra deixou de falar”, que reúne cantos
da mitologia do povo marubo, do Amazonas.
Segundo Cesarino, “no Brasil
atual fala-se pelo menos 180 línguas indígenas (...). Partindo do princípio de
que cada uma delas contém um mundo e uma estética próprias, é possível imaginar
a diversidade poética espalhada pelo país”.
Mas o que unifica essas
visões, diz Cesarino, é o que muitos antropólogos chamam de “perspectivismo
ameríndio”. Trata-se da:
...ideia de que o planeta é
habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não humanas
— todas dotadas de pontos de vista, de consciência e de cultura. Ao contrário
da lógica ocidental, o homem não é a medida de todas as coisas, e muito menos o
dono do mundo. A natureza não é nem unificada nem mostrada de forma objetiva.
Trata-se de uma relação entre sujeitos, e não do tipo sujeito-objeto.
Desse modo, para o povo
marubo, o rio:
“... não é apenas um
reservatório de água, é a morada em que vive o povo subaquático. Você não pode
poluir o rio ou abusar da caça, com o risco de sofrer retaliação. O conceito de
sustentabilidade está no cerne da cultura ameríndia”.
E o pajé ainda avisa que “não
se pode caçar o povo do mato indiscriminadamente, porque sabe que o chefe do
povo do mato pode se vingar de nós”.
São estes povos que o
agronegócio considera atrasados e rudimentares!
Leia também: A
Casa Grande ainda massacra
Nenhum comentário:
Postar um comentário