Reportagem de Iara Biderman
para a Folha confirma o que muita gente já desconfiava. Publicada em 12/08, seu
título diz: “Estudo mostra que maioria das pessoas escuta sempre as mesmas
músicas”.
A confirmação vem de uma
pesquisa feita na Universidade de Washington “sobre o poder da familiaridade na
escolha musical”. Envolveu mais de 900 universitários, que se diziam “apreciadores
de novos sons”. Apesar disso, os testes revelaram que a maioria deles optou por
ouvir músicas com que tinham familiaridade.
A reportagem ouviu
especialistas como um neurocientista que garante que isso é coisa do cérebro. O
órgão optaria quase automaticamente por coisas simples e conhecidas. Não convence.
O crítico musical José Ramos Tinhorão apresenta diagnóstico mais provável. Diz que
isso é influência do mercado.
Conclusão parcialmente confirmada
por quem é do ramo. Referindo-se aos repertórios repetitivos das rádios, Rifka
Smith afirma: "De tanto ouvirem, as pessoas acabam se familiarizando e não
sabem mais se gostam ou não. Mas criam fidelidade". Ela deve saber do que está
falando. É diretora da Radiodelicatassen, empresa de planejamento de produtos
radiofônicos.
O debate faz lembrar o que disse
Marx sobre nosso aparelho sensorial. Nos “Manuscritos econômico-filosóficos”,
ele afirma que “a formação dos cinco sentidos é um trabalho de toda a história
universal até nossos dias”.
Em outros momentos de sua
obra, Marx mostra como a economia capitalista priva as experiências humanas de
significado. Toda qualidade só tem valor se é transformada em quantidade. É assim
que nossos refinados sentidos, formados pela “história universal”, vão se embotando.
Cada vez mais lhes escampam as sutilezas.
Escutamos, mas não ouvimos. E
não apenas músicas.
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Sagração da primavera e a Rosa de Hiroshima
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