Doses maiores

7 de agosto de 2013

A duvidosa qualidade dos números sobre qualidade municipal

Há alguns dias, foi divulgado o chamado Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) brasileiro. Trata-se de um indicador calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Vários textos e artigos circularam em torno dos números apresentados.

Mas a abordagem mais lúcida é da urbanista Raquel Rolnik, professora da USP e relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada. Segundo o texto postado no blog da urbanista, em 01/08:

Por se tratar de um índice municipal, um dos objetos destacados pela mídia foi a apresentação de uma espécie de “ranking” de municípios, mostrando os melhores e os piores… Em tese, cidadãos e governos dos “melhores” municípios devem ter ficado orgulhosos, e os dos piores, envergonhados ou chateados. Mas será que estes números revelam mesmo a qualidade dos nossos municípios?

A própria Raquel responde, denunciando o que ela chamou de “modelo ‘dual’ de urbanização e desenvolvimento urbano”, em que “pedaços de cidade completos” convivem com “pedaços precários”. Basta que os moradores das grandes cidades olhem para sua vizinhança para constatar a exatidão dessa observação. E a urbanista volta a questionar:

... o que explicaria que as cidades que concentraram as manifestações de junho são justamente as que apresentam os maiores índices? Se são estas as mais desenvolvidas do país, por que seus cidadãos estão reclamando por direito à cidade?

A resposta está nas ruas. Ao que parece, este tipo de estatística mais esconde e distorce que mostra e explica. Menos mal que a mobilização popular esteja desmentindo esses números. Mas se continuarem a orientar políticas urbanas injustas, vamos de mal a pior.

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