Há alguns dias, foi divulgado
o chamado Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) brasileiro.
Trata-se de um indicador calculado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. Vários textos e artigos circularam em torno dos números
apresentados.
Mas a abordagem mais lúcida é
da urbanista Raquel Rolnik, professora da USP e relatora especial da ONU para o
direito à moradia adequada. Segundo o texto postado no blog da urbanista, em
01/08:
Por se tratar de um índice
municipal, um dos objetos destacados pela mídia foi a apresentação de uma
espécie de “ranking” de municípios, mostrando os melhores e os piores… Em tese,
cidadãos e governos dos “melhores” municípios devem ter ficado orgulhosos, e os
dos piores, envergonhados ou chateados. Mas será que estes números revelam
mesmo a qualidade dos nossos municípios?
A própria Raquel responde,
denunciando o que ela chamou de “modelo ‘dual’ de urbanização e desenvolvimento
urbano”, em que “pedaços de cidade completos” convivem com “pedaços precários”.
Basta que os moradores das grandes cidades olhem para sua vizinhança para
constatar a exatidão dessa observação. E a urbanista volta a questionar:
... o que explicaria que as
cidades que concentraram as manifestações de junho são justamente as que
apresentam os maiores índices? Se são estas as mais desenvolvidas do país, por
que seus cidadãos estão reclamando por direito à cidade?
A resposta está nas ruas. Ao
que parece, este tipo de estatística mais esconde e distorce que mostra e
explica. Menos mal que a mobilização popular esteja desmentindo esses números.
Mas se continuarem a orientar políticas urbanas injustas, vamos de mal a pior.
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