Doses maiores

29 de agosto de 2013

Os médicos cubanos e a direita à vontade

Nojentas muitas das reações à vinda de médicos estrangeiros patrocinada pelo governo brasileiro. Principalmente, em relação aos profissionais cubanos. Há de tudo. Do racismo mal disfarçado à xenofobia, passando por um anticomunismo digno dos porões do DOI-CODI.

Mas é mais um episódio que mostra a complexidade do momento político que vivemos. Queiramos ou não, quem governa o País há mais de 10 anos é um partido de esquerda. É verdade que governa protegendo os interesses da direita. Mas para a grande maioria da população ser petista é ser de esquerda.

A própria burguesia faz questão de lembrar isso a todo momento. É a desculpa para pagar com ingratidão os enormes favores que recebe do governo petista. A mesma ingratidão que leva a grande mídia a amaldiçoar diariamente os atuais governantes como esquerdistas enlouquecidos.

É isso que explica por que a direita ficou tão à vontade nas ruas em junho. Ela deixou de ser o alvo principal. Os setores que representa continuam sendo a principal causa por trás das desgraças sociais, mas se escondem atrás do biombo que os petistas e seus aliados lhes oferecem.

Neste cenário, o grande desafio da oposição de esquerda é combater os inimigos da direita e denunciar o comportamento vergonhoso de seus cúmplices no governo. Tudo isso sem ser confundida com a esquerda governista ou com as odiosas forças do conservadorismo.

Não é fácil. Nem sempre conseguimos. Mas é preciso manter a mira ajustada. E quando o racismo, a xenofobia e o anticomunismo atacam, não dá pra vacilar. A prioridade é pau neles!


8 comentários:

  1. Bela analise. A opçao do PT pela governabilidade deixou o movimento popular numa situação desconfortavel. O trabalhador continua embrutecido e a burguesia nunca esteve tao risonha. Mas uma coisa me deixa inquieto nesse projeto do PT: a incapacidade de abrir espaços (politicos e financeiros) para os meninos que ( como eles o foram) se insurgem com valentia contra esse riso cinico de quem esta ganhando a parada...

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  2. Pois é, Serginho, eu fico puto de ter que defender - em muito última instância - o PT quando vem estes ataques de direita. O meu esforço e desejo era de fazer a crítica ao PT pela esquerda, mas quando vêm estas críticas, eu tenho que sair fazendo a defesa.
    Impressionante como a nossa sociedade está ainda impregnada de crítica ao PT pelo que ele não é mais.
    Um reparo na sua "pílula", mesmo com as ressalvas não dá para classificar o PT como partido de esquerda.

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    1. Marião, o PT é de esquerda. É naquele sentido que o Bobbio falava, sobre forças políticas que tentam aplicar políticas de redistribuição de renda, algum diálogo com movimentos sociais mesmo que não dê em muita coisa etc. Mas também é de esquerda porque a população vê assim. E junta todo mundo no balaio, PSOL, PSTU, PCO e tal. Então, não tem muito pra onde fugir. E se dissermos que PT, PCdoB são de direita também assustamos muita gente que se aproxima deles animados com as bandeiras suaves e rebaixadas de esquerda que eles tem. Aí, não conseguimos nem começar a conversar pra mostrar que ser de esquerda é muito mais que isso.
      Bração!

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    2. Sergio, à direita da social democracia não considero partido de esquerda. Vc acha ou não que o PT é um partido à direita do que foi a social democracia européia, por exemplo? A gente considerava ela de esquerda? Lógico que não o considero de direita, entre uma e outra, como sabe, existe granulações.
      Faz tempo que percebo que, para não se isolar, vc não coloca o PT no seu devido lugar. Poderia pensar que devido a sua responsabilidade de militante tenha que fazer concessões. Por outro lado, devido a sua seriedade intelectual acho que não faria isso. Por tudo isso, e pelo distanciamento e falta de comunicação mais constante, só me resta a dúvida.
      Uma coisa é não cair de pau e tratar o PT como partido de direita, outra é achar que ele é um partido de esquerda.
      Sabe, não sei quem anda se aproximando do PT e PC do B. Para mim existe uma massa que vota (ponto!) nestes partidos. Que flutua, hoje está aqui, amanhã está lá. Seria essa massa que diz que devemos nos aproximar? Acho que deve-se aproximar, sim; agora, não vejo que diferença possa existir para ela tratar o PT como um partido de direita ou esquerda.
      Sei que este espaço é pequeno para uma discussão deste tipo. Acredito que possam estar me faltando subsídios para entender melhor esta conceituação de partidos, mas, mesmo assim, achei melhor registrar meu entendimento.

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  3. "...Neste cenário, o grande desafio da oposição de esquerda é combater os inimigos da direita e denunciar o comportamento vergonhoso de seus cúmplices no governo. Tudo isso sem ser confundida com a esquerda governista ou com as odiosas forças do conservadorismo..." Genial, Sergio.

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  4. Então, Mário. Não é que eu queira "poupar" o PT. É que precisamos estabelecer as diferenças para tomar as decisões táticas mais acertadas possíveis. O PT está à esquerda do PSDB, DEM, PSB, PPS e até do PCdoB? Sim. Isso não implica alinhamento eleitoral ou coalizões automáticos com o PT contra o PSDB ou DEM, mas em muitos movimentos sociais, petistas lutam lado a lado com companheiros do PSOL, PSTU etc. Na base do PT tem muita gente de luta com quem dá pra atuar conjuntamente em muitas questões. Tem muito militante sem-terra petista que é morto pelos sertões afora. As direções são outra coisa.

    Esta é quase uma lei dos partidos social democratas na Europa. Lá também, eles têm radicais em suas bases. E considero o PT o partido “social democrata” que nosso momento histórico permitiu. Já surgiu do jeitão T. Blair, F. Hollande, que apoiam o imperialismo sem vacilação.

    Acho que os revolucionários dependem de um vasto campo reformista para amplificar sua intervenção. É só fazer a experiência. Critique o governo petista num boteco para pessoas não militantes. Se elas concordarem com você, provavelmente será pela direita, acusando os petistas de sempre terem sido baderneiros, ladrões, vagabundos. Aí, você acaba tendo que defender o PT. Somente em conjunturas muito especiais (“situações revolucionárias”), podemos falar diretamente à “massa” que não é militante ou não domina essas questões e fica sensível ao que defendem as organizações mais radicais. É quando fica mais claro que há uma esquerda que vacila, se acovarda politicamente e uma esquerda que pretende ir até o fim. É a tal hegemonia de Gramsci. Sob governos de esquerda (ou ditaduras de direita) isso é ainda mais importante.

    Mas, realmente, isso é papo pra muitas horas.

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