Imperdível a entrevista com Carlos
Frederico Marés de Souza Filho publicada no site IHU-Online, em 12/08. Em “O
impacto das novas tecnologias nas sociedades tradicionais”, o jurista com
especialização em direito dos povos indígenas mostra como a utilização das
tecnologias para o bem comum dependem da lógica social a que servem. Incluindo
aí os impactos ambientais. Um exemplo:
A tecnologia de construção
andina, chamada Inca, aproveitava a energia solar de tal forma que refrescava
as quentes regiões baixas e mantinha o calor nas casas nas altitudes, assim
como aproveitava as áreas geladas para conservar alimentos. Toda essa
tecnologia foi desprezada pelos espanhóis e somente agora está sendo recuperada
como tecnologia sem impacto negativa ao meio ambiente.
Outro exemplo, desta vez em
relação ao crescente uso das novas mídias nas comunidades indígenas brasileiras.
Segundo o jurista, a formação de “comunidades virtuais” possibilitada pela comunicação
em rede não é necessariamente contraditória com o comunitarismo indígena.
Um grupo indígena só perde
sua qualificação de indígena quando perde a sua característica comunitária. Se
essa tecnologia leva a uma perda da identidade comunitária, ela destrói a
cultura. Do contrário, não.
Quanto à importância do conhecimento,
outra lição:
Os índios não se opõem à
expansão do conhecimento, mas ao fato de que uma empresa pegue esse
conhecimento e o transforme em uma propriedade privada individual, que cobra
dos outros pelo uso, enquanto eles não cobram. Trata-se, portanto, de uma
questão interna do capitalismo.
Ou seja, o comunismo indígena
mostra que o capitalismo branco está fazendo tudo errado com os maravilhosos recursos
que muitas de suas próprias tecnologias oferecem.
Leia também: A
milenar ecologia indígena
Distorção completa. A propriedade privada dos indígenas era seu próprio bolden (solo). E quando a liderança que moldava os indivíduos não era encarnada por um chefe, era sob um certo código de regras que oprimia a liberdade individual. Índio fora da tribo é quase certamente escravo ou alimento. Eu comparo a organização indígena genericamente a uma organização familiar tradicional. Certos vínculos políticos da sociedade geral inexistem e, então, é possível formar um ambiente em que a competição inexista, nem tampouco certas relações de trabalho que ultrapassam a escala da família e da tribo. Tanto é assim que as comunidades indígenas caem em notório imobilismo quando o desafio é a articulação de formas mais elaboradas de uso da natureza para fazer o modo de vida progredir para a superação das dificuldades atuais. Muitas apresentavam inanição pesada (os trabalhos de Josué de Castro eram muito bons nessa área) e graças a certas novidades trazidas da Europa, foram aos poucos melhorando das moléstias causadas pela fome. As comunidades indígenas, assim como as cooperativas podem ter esse caráter quanto ao trabalho, mas não são modelos para toda uma sociedade. Apoio qualquer inciativa de comunidades em prol de trabalho para seus membros, mas jamais da imposição de tal modelo ao restante da sociedade. Sobre as práticas ecológicas: elas refletem o envolvimento da relação homem-natureza e os legados produzidos depois de muito tempo. Se funcionam, devem ser difundidas.
ResponderExcluirNão entendi muita coisa do que você disse, mas quem promove a imposição de um modelo ao restante da sociedade é o capitalismo. Nunca o ser humano viu-se padronizado cultural e socialmente como hoje, em praticamente todo o planeta. Tanto é que os erros de apenas uma forma de produção (a que privou a grande maioria de meios de produção próprios) passaram a ameçar a existência de toda a espécie (e de muitas outras). Confio na possibilidade de nos safarmos dessa, mas apenas se nos livrarmos do capitalismo.
ExcluirAbraço