O que matou mais, o capitalismo ou o comunismo? Esta é uma pergunta “ideológica e ardilosa”, observa Juremir Machado da Silva em seu livro “Raízes do conservadorismo brasileiro”.
O ardil da questão está no fato de que “não passa pela cabeça de quase ninguém incluir na conta do capitalismo as mortes da escravidão moderna”, diz ele.
Afinal, o capitalismo nasceu muito antes do período em que surgiu o que muitos costumam chamar de comunismo. E a escravidão não foi uma atividade externa ao sistema econômico que já dominava o mundo no século 19. Ao contrário, foi um dos pilares sobre o qual ele se ergueu.
Como disse Marx em “O Capital”:
As descobertas de ouro e de prata na América, o extermínio, a escravização das populações indígenas, forçadas a trabalhar no interior de minas, o início da conquista e pilhagem das Índias Orientais e a transformação da África num vasto campo de caçada lucrativa são os acontecimentos que marcam os albores da era da produção capitalista.
O comércio de cativos foi também uma oportunidade de investimentos na bolsa, lembra Silva. Empresas privadas de comércio de escravos vendiam ações nas bolsas de valores de Amsterdã, Londres e Paris.
Como diz o autor:
A "banalidade do mal" nazista foi precedida pela banalidade da ganância capitalista, que inventaria o racismo contra os africanos para legitimar e naturalizar o comércio que ceifou milhões de vidas. No ponto de partida, era só um bom negócio com carne humana encontrada fartamente na África.
A história da acumulação primitiva do capitalismo é a verdadeira história universal da infâmia.
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Contabilidade difícil, tem que considerar um bocado de tipos de mortes: assassinatos políticos, resultado do sistema etc.
ResponderExcluirSim, mas diante das mortes causadas pelo tráfico negreiro e pelas condições do cativeiro, essas outras são detalhes
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