Segundo Silva, na condição de parlamentar conservador no Segundo Império, o criador de Iracema dos “lábios de mel” encarnou o pior da retórica conservadora brasileira do século XIX.
Morreu antes da Abolição, mas enquanto viveu lutou com unhas e dentes pela manutenção do trabalho escravo. Para exemplificar, Silva cita trechos de uma carta de Alencar ao Imperador:
Sem a escravidão africana e o tráfico que a realizou, decerto, não existiriam as duas grandes potências do novo mundo, os Estados Unidos e o Brasil. A brilhante civilização americana, sucessora da velha civilização europeia, estaria por nascer.
(...)
A raça branca, embora reduzisse o africano à condição de uma mercadoria, nobilitou-o não só pelo contato, como pela transfusão do homem civilizado.
(...)
Não nos recordamos que os povos nossos progenitores foram também escravos e adquiriram, nesta escola do trabalho e do sofrimento, a têmpera necessária para conquistar seu direito e usar dele?
Em relação a esta última pérola, Juremir Silva não resiste e comenta:
É o mesmo argumento, guardadas as proporções, usado ainda hoje por certos defensores do trabalho infantil que acreditam ser essa uma forma de dar suposta oportunidade de emprego aos mais carentes ou de formar desde cedo para o trabalho em condições "adequadas".
Em uma sociedade em que o analfabetismo era a regra, Alencar tinha mais fama do que era lido. Não era como escritor que se destacava. Era como orador. Mas sua boca salivava não o mel de Iracema, e sim o sangue dos escravizados.
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Boa Sergio, já não gostava dele porque fui o obrigado a lê-lo no ginásio e achei muito chato. Só reforçou, e agora de uma forma muito pior. Gostei do título, nem precisei ler para associar.
ResponderExcluirEu também não gostava dele, mesmo sem saber desses podres
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