Doses maiores

2 de março de 2021

130 anos depois da Abolição, a mentalidade escravocrata domina

Quantas vezes os brasileiros seriam assustados com a ameaça vermelha? Quem poderia imaginar que, já nas lutas em torno da abolição da escravatura, o fantasma comunista fosse agitado, como seria em 1954 e em 1964, para tentar frear o ímpeto dos progressistas ou as aspirações da população? Quem poderia imaginar que até a dom Pedro II um escritor e político famoso como José de Alencar citaria o espectro vermelho?!

O trecho acima é do livro “Raízes do conservadorismo brasileiro: a abolição na imprensa e no imaginário social”, de Juremir Machado da Silva.

Publicada em 2017, a obra apareceu num momento em que poucos esperavam testemunhar a tragédia política e social como a que vivemos hoje.

Mas o autor, certamente, identificou já naqueles dias a necessidade de buscar na persistência da escravidão negra um dos principais elementos para explicar o extremo conservadorismo da estrutura social e política nacional.

Pesquisando os jornais dos período da abolição da escravidão, Silva consegue demonstrar como era terrível a mentalidade escravocrata. E mais que isso, como essa mentalidade persiste 130 anos depois.

Afinal, nas eleições presidenciais de 2018, o candidato que se tornou vitorioso referiu-se a quilombolas como animais reprodutores, cujo peso deveria ser medido em arrobas.

No trecho destacado acima, aparece o nome de um dos mais respeitados escritores brasileiros. Infelizmente, José de Alencar revelou-se um dos mais acirrados defensores da escravidão, colocando toda sua capacidade argumentativa e erudição a favor dessa vergonhosa causa.

Respeitadas as gigantescas diferenças intelectuais entre os dois, Alencar até poderia ser considerado uma espécie de Olavo de Carvalho do período imperial.

Mais nas próximas pílulas.

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