Doses maiores

1 de março de 2021

A ditadura militar acabou. O poder militar, não

Em 04/10/2020, Olavo de Carvalho escreveu no Facebook:

Somente a direita mais imatura e boboca do mundo pode ter tido a ideia magnífica de conquistar a Presidência da República antes de haver dominado nem mesmo um pedacinho das universidades, da mídia e dos sindicatos.

Segundo Olavo, findo o regime militar, o comunismo dominou instituições, entidades classistas, universidades, escolas, mídia e indústria cultural.

Em nível mundial, o fim da própria União Soviética foi pensado para que os comunistas pudessem continuar seu trabalho de subversão da ordem sem levantar suspeitas.

Delirantes, essas afirmações representam uma total inversão do que vem acontecendo na realidade há décadas.

Não foi uma crescente “comunistização” da sociedade que seu seguiu ao fim da ditadura militar. Foi a militarização do cotidiano que se manteve e se aprofundou.

As torturas continuam ocorrendo nas delegacias. As PMs permanecem fortes e independentes em relação aos governantes eleitos. Representam o único braço do Estado realmente presente nos bairros pobres. Há uma legislação de exceção voltada especificamente contra os movimentos sociais.

Por fim, destaquemos recentes notícias segundo as quais desde que tomou posse, Bolsonaro dobrou o número de militares em cargos estratégicos em seu governo e triplicou a presença deles na administração pública.

Não foram os comunistas que continuaram a subverter a ordem, apesar de terem perdido sua “pátria socialista”. São os militares que se mantiveram em lugares-chave das estruturas de poder, mesmo privados de poderes ditatoriais.

A Bolsonaro coube apenas coroar esse trabalho ocupando a cadeira presidencial. Não sem antes ter seu caminho aberto pela quase totalidade das instituições desde a preparação e execução do golpe de 2016.

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