Para encerrar esta série de comentários sobre o livro “Raízes do conservadorismo brasileiro”, de Juremir Machado da Silva, algumas considerações sobre o racismo.
O racismo enquanto doutrina científica não precedeu e justificou a escravização humana. Foi a descoberta de que o cativeiro e o comércio de pessoas podiam ser altamente lucrativos que demandou do nascente capitalismo uma justificativa pretensamente científica. Mas uma vez abolido o escravismo, o racismo persistiu.
Segundo Silva:
O maior paradoxo talvez esteja em que o racismo cresceu ao longo da campanha abolicionista. Afinal, os imigrantes brancos europeus deveriam ser trazidos como membros de uma raça superior. Para muitos brasileiros, o principal argumento para a abolição não fora a infâmia da escravidão nem a condição humana do escravo, mas a suposta inferioridade intelectual do negro - apresentada como dado científico -, que deveria ser substituído no trabalho por gente de raça mais inteligente, produtiva e rentável.
Em 1878, o médico francês Louis Couty, por exemplo, professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, afirmou o seguinte sobre os negros:
Como as crianças, eles têm os sentidos inferiores e, sobretudo, o paladar e a audição relativamente desenvolvidos. O negro gosta de tabaco (...) ele adora as coisas açucaradas, a rapadura; mas o que ele gosta acima de tudo é de cachaça (...) Para conseguir cachaça, ele rouba (...) e sacrificando tudo a essa paixão, inclusive a própria liberdade, ele trabalhará até no domingo.
O conhecimento científico é uma conquista da humanidade. Mas como qualquer atividade humana, pode se curvar aos interesses dos poderosos. E na defesa deles pode tornar-se instrumento das piores barbáries.
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A par de todos os entendimentos brutalizados que justificam o racismo, considero a "pedra filosofal" essa teoria da inferioridade intelectual dos pretos. Foi a primeira coisa que ouvi falar. Sobre ela poucos são os que tem não tem vergonha de afirmar, mas muitos ainda tem certeza de ser o motivo da sua desconsideração e desqualificação. Ou seja, mesmo bloqueando minimamente a palavra, sobre muita palavra não dita, e não só para rimar, maldita.
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