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29 de março de 2021

Guerra híbrida: sobre falsas bandeiras e fraudes verdadeiras

Durante a campanha eleitoral, e mesmo depois de vitorioso, Bolsonaro vivia repetindo que desconfiava de fraudes nas eleições. Para muita gente, não parecia fazer muito sentido. Mas...

Diante das declarações de Bolsonaro, o que fez Fernando Haddad, seu principal oponente?

Reafirmou que confiava plenamente na Justiça e no sistema de votação, uma semana depois de abandonar o lema “eleição sem Lula é fraude”.

Posteriormente, quanto mais Bolsonaro aumentava o tom “antissistema”, mais Haddad procurou se vincular à Justiça: primeiro ao dizer que Sergio Moro “fez um bom trabalho”, e que “confiava na justiça” para “corrigir erros processuais”; depois ao procurar Joaquim Barbosa, que condenou o PT no processo do “Mensalão” com base na “teoria do domínio do fato”, primeira versão das “provas por convicção” de Sérgio Moro.

Desse modo, Haddad acabou por se constituir no fiador da vitória do adversário. Ele e o PT não só endossaram o papel da Justiça, quanto o dos militares, levando à frente o discurso de que “as instituições estão funcionando”.

O relato acima está no livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida”, de Piero Leirner. Ele caracterizaria uma manobra típica da “guerra híbrida”, chamada “falsa bandeira”. Aquela em que um lado da guerra assume como sua uma bandeira que acaba ajudando seu inimigo.

Claro que houve fraudes, mas não são aquelas que Bolsonaro espertamente denuncia. São bem mais antigas e foram elas que possibilitaram sua vitória.

Não se trata apenas do julgamento do “Mensalão” ou da Operação Lava-Jato. Mas de uma democracia que sucedeu o regime empresarial-militar sem jamais julgar os responsáveis por seus crimes.

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