Há muita gente que entende as recentes derrotas impostas ao PT e à esquerda em geral como produto de uma “guerra híbrida”. O problema é que esse conceito tornou-se elemento central de certas teorias da conspiração.
Mas em seu livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida”, Piero Leirner lembra que “as guerras sempre foram algo híbridas”. Afinal, diz ele, se Carl von Clausewitz afirmava que a guerra é uma “extensão da política por outros meios”, o contrário também é verdadeiro.
Leirner destaca teóricos como Pierre Clastres e Lévi-Strauss, segundo os quais, ao surgir, o Estado não elimina a “guerra de todos contra todos”, mas passa a administrá-la. Ou seja, não há nem jamais houve uma oposição rígida entre paz e guerra, política e violência.
Porém, alerta o autor, nada disso quer dizer que as guerras sempre foram hibridas. A “guerra híbrida tem algo que nenhuma outra conseguiu tornar explícita: a ideia de que não existe mais um ponto final para ela própria”.
E esta ideia fica clara quando o neoliberalismo procura reduzir o Estado a seu núcleo duro, cuja função principal é assegurar uma ordem claramente a serviço do capital, enquanto intensifica a militarização da vida social.
Mas, muito antes disso, o general Golbery já dava o seu recado. No livro “Geopolítica do Brasil”, de 1966, ele dizia que “hoje” a “guerra estritamente militar” passou a ser “guerra global”. E “de guerra global a guerra indivisível e (...) permanente”.
A partir desses elementos, Leirner argumenta que os militares jamais deixaram de travar uma guerra hibrida contra a esquerda brasileira. Infelizmente, com vitórias expressivas.
Continua...
Leia também: Militares no poder ou a volta dos que não foram
Nenhum comentário:
Postar um comentário